6.6.16

coração

sexta me queimaram a mão com cigarro. fazia talvez uns dez anos que eu não me colocava assim. num lugar em que podem queimar a minha mão com cigarro. eu lembro ainda quando minhas saias tinham todas furos de cigarro. meu e das amigas. das noites dançando. na dr smith. na sweet home. na bunker. na bang. no ballroom. na fundição. noites sem lei do cigarro em que o cabelo fedia a fumaça a semana inteira. noites dançando de olhos fechados e sorriso solto, com as bolsas no chão. amigo chamava de ebó de discoteca.
dançar deixa o corpo da gente mais inteiro. sabe que eu nem sinto falta de falar quando eu danço? e isso quer dizer alguma coisa, eu prometo. eu paro de falar quando danço. eu rio. eu gosto de dançar em par. mas o cara tem de saber guiar. porque eu sou ruim de ser guiada. nem todo mundo consegue. daí eu descobri esse lugar. ao ar livre. com músicas que eu curto dançar. e eu me sinto ali como me sentia nas festas em que eu era jovem. podendo fechar os olhos e podendo me queimar. porque fechar os olhos é autorizar o mundo a acordar a gente desse transe. e ele acorda.
e minha mão queimou. e hoje eu olhei pra bolha que ficou. acinzentada, como sói acontecer com bolhas criadas por cigarros. e achei que ela tem forma de coração.
então. queria dizer. que me senti meio que acalentada por isso, por mais irracional que possa ser me sentir reconfortada pela forma de uma bolha. mas um coração pode segurar as nossas pernas. e tendo um que veio com defeito. é sempre bom ter um externo.

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