10.10.16

já mudei

na verdade. eu quero saber o problema. em ser radical. em ser petista. em ser vadia. eu quero saber o problema. em não ser essa caixinha daí que você considera aceitável. porque eu não sou. eu tenho 40 anos e uso minissaia. e fui a reunião do pt, e fiz campanha desde 89. eu acredito em estudar e procurar entender as coisas. radicalmente. no sentido etimológico da palavra. porque eu não tenho raiz, mas as coisas tem. eu quero saber qual é o problema. porque a gente fica se desculpando e tentando dizer que não fala as coisas por ter lado. eu falo por ter lado, sim. e ter lado não significa estar errado. todo mundo tem seu lado. a maior falácia do mundo é a existência de um ser sem ideologia. de um ser sem lado. isolado. não estamos. escolhe aí. ou assume aí. mas para de tentar se colocar nesse papel puro. porque isso não te faz um pensador. te faz uma pessoa que não tem coragem. e quem não tem coragem tem medo do outro que tem coragem. porque é insuportável falar com quem faz o que a gente quer e não consegue fazer. a gente se sente diminuído. sai dessa. ouve o outro. conversa. tenha coragem. e tira as suas caixinhas dos meus pés. ou terei de trocar de biografia. pra por todas as etiquetas que tentaram me colocar na vida. vai ser longa. terão muitas. eu arranco todas. feito band aid. nem que pra isso eu me foda no caminho. eu não fico com elas. o meu caminho sou eu que faço. eu que determino. não me coloca no seu. não me diga que coisas eu devo me orgulhar ou sentir vergonha. não é você.

9.10.16

radical

eu tenho alguma noção de que esse texto não deve chegar a quem eu queria que chegasse. esses que acham que eu sou isso daí de radical. esses que acham que ser radical é algo ruim. algo que prevê quebras e perdas de todas as formas. esses que morrem de medo de mudança. eu sei disso. e acho uma pena. de algum jeito, eu queria falar com eles. segurar a mão e falar: cara. você me conhece. me vê na rua. é da minha família. estuda comigo. você sabe que eu não quebro nada (no máximo tropeço e caio). que eu sou uma ermitona um tanto tímida e de voz baixa. você sabe que eu escolho as brigas e já deixei na adolescência as brigas de bar e discussões na rua. você sabe que eu sou turrona mas me calo pra ouvir o outro. mas enfim. eu queria ser ouvida hoje. pra falar disso daí, dessa ideia do radical. do outro como fonte do medo.
eu posso falar que isso é filosoficamente estudado. a alteridade como fonte de medo e ódio. que isso é parte da engrenagem que gera o racismo. e parte da engrenagem que mantém o capitalismo. eu posso falar que um bando de coisa que eu não sei se você conhece. mas eu vou tentar falar sem ser assim. falar mostrando que não somos, todos, o outro do outro. os infernos dos outros. a gente não precisa eleger o outro assim com tanta força. o outro pode mudar. a gente pode mudar.
vem comigo aqui que eu te ajudo. mudar pode ser delicioso. a gente é mais forte como grupo. isso não é ser radical. é tentar acreditar no homem como medida de todas as coisas. no homem. acreditar que a gente pode. que a gente tem poder. o que eu busco, e tantos como eu, aqui, na caixa de ressonância e fora dela, não é uma quebra radical de tudo. é uma mudança, talvez radical, que permita que existam menos outros amedrontadores no mundo. é tirar de quem tem esse medo todo. mas me diz. por que você quer ter esse medo? acho que no frigir dos ovos, o que eu quero saber é isso: o que esse medo tem que as pessoas querem ele ao seu lado? ele é constituinte delas? tem gente que diz que sim. eu queria acreditar que não. que esse medo pode ser tirado. que podemos conversar aqui. e no mundo. para tentar entender. porque nesse instante. nessa hora. eu entendo muito pouco e busco muita coisa.

mas deixa. eu sou a maluca que gosta de roupa extravagante. que raspa a cabeça. que não entende você. mas eu quero entender. me explica. por que eu e os meus te ameaçamos? eu quero entender, porque eu não me sinto ameaçada pelos outros.

4.10.16

os pontos

hoje acordei querendo entregar os pontos. e vou dormir do mesmo jeito. hoje o dia foi cansativo, improdutivo, foi dar murro em ponta de faca. hoje de quem eu quis ajuda eu tive conflito. de quem eu queria apoio, eu tive nada. hoje eu fui sozinha, eu fui cansada, eu fui brigando. hoje eu quero dormir e esquecer o hoje. quero ir pra cama e que todos os hojes se apaguem e todos os amanhãs possam aparecer. quero chorar até dormir sem ter de explicar nada. quero me exaurir e não saber mais nem porque eu comecei a chorar. porque eu não sei. se eu soubesse, talvez eu estivesse louca. eu choro porque hoje, porque amanhã, porque confusa, porque nada. choro porque não passa, não anda, não resolve. choro porque cada minuto do dia foi lutado, porque nem o pokémon me quis, porque eu tô cansada. porque eu tô cansada demais. porque eu não aguento mais e ainda falta muita estrada pra andar. e a sensação de que sempre falta muita estrada e que a estrada não vai acabar e eu tô cansada. hoje eu vou dormir e amanhã a estrada pelo menos vai ter flor. espero.