23.6.16

afeto

uma vez, num exercício de retórica na pós de interpretação, tiramos papéis para falarmos sobre um assunto. eu tirei afeto. e uma colega achou que fazia sentido. na minha cabeça de quem leu demais, não entendi porque para ela fazia sentido. afinal, afetamos uns aos outros o tempo todo. ela quis dizer que eu era afetuosa, gentil. que eu me preocupava com as colegas, o que não era comum.

hoje fui almoçar com uma colega de turma. da escola. eu acho que não sei dizer quando eu não conheci essa turma. éramos poucas. poucos. éramos quase todas mulheres. éramos unidas. éramos felizes. tanto quanto adolescentes podem ser felizes. falamos das amigas em comum. e eu percebi de novo. que eu mantive alguma ideia de onde estão as colegas. eu nunca fui a melhor amiga de todos. mas eu sou ligada aos afetos. eu me apego ao que me afetou. eu sei onde estão os colegas. mesmo sem falar com eles todos os dias. e essas pessoas são amigas. mesmo sem falar todo ano.

uma está em brasília. outra em paris. outra aqui do lado em laranjeiras. um em são paulo. somos todas uma só, ela disse. a gente aprendeu com a gente a se portar nesse mundo, ela disse. você não julgava as nossas loucuras ela disse. e você sempre foi careta. você defendia as loucuras da gente, ela disse.

eu me senti acarinhada. e sem saber porque. depois eu entendi. existe algo em amizades de mais de vinte anos. algo que a gente não pode definir. algo que a gente não pode controlar. a gente sabe quem o outro é. e o outro muda. corta cabelo. cresce cabelo. casa. separa. tatua. muda. mas aquele afeto ali. aquele original, o que criou a gente adulto. tá aqui, na mão. renasce se encontra.

encontrar maria foi reencontrar comigo. foi lembrar o que a gente era. o que a gente ainda é. somos muitas. somos poucas. estamos aqui, sempre, umas pelas outras. uns pelos outros. não vamos a lugar algum. e não mexa conosco. a gente não anda só. a gente é multidão. de poucos, mas multidão. e é sempre bom saber disso. que eu tenho elas. eles. e elas me tem. eles.

eu aprendi que não sou sozinha.

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