7.4.17

Pergunta

A mãe de santo disse que estou solteira e bem assim. Alguém disse a ela. Acho que xangô. Mas não lembro. Sei que não deixa de ser verdade. Me perdi olhando uns textos meus e achei um ou dois falando de braços e pernas e línguas. E percebi que até o sonho de outro dia isso estava adormecido em mim. E o sonho puxou de volta e eu tô indo viajar e não sei o que fazer. Com braços e pernas e línguas e corpos. Nem todo prazer provém do corpo, acho. O corpo existe, gera afeto e prazer. Mas nem só. O corpo pode ficar de lado. O corpo dorme. E quando acorda eu fico perdida. Tô aqui olhando pra ele e pensando como fazer. O corpo não em forma. O corpo não usado. Enferruja e cansa. E agora quero voltar na mãe de santo e perguntar o que fazer com ele.

6.4.17

Correto

o mundo em que conquista nenhuma pode ser comemorada porque não veio do jeito certo. o mundo em que existe jeito certo. e que o jeito certo é medido na régua de quem fala. que define também quem é bom o suficiente para andar ao seu lado. esse mundo daí. é um mundo excludente e infeliz. fantasiado de inclusivo, porque jura que quer o melhor de todos. desde que seja do jeito certo. a gente volta sempre praquela crítica, né? ao que acreditam que seja o pós moderno. ao problema em se relativizar as coisas que é visto. nada pode ser dependente de pinto de vista, tudo é definido e definitivo. na verdade as pessoas morrem de medo de não saberem em que chão pisam. de precisarem ir definindo o caminho ao caminhar. e a melhor forma de não precisar definir o caminho ao caminhar. de não precisar rever e reorientar o caminho. de não precisar ficar escovando a contra pêlo pra ver o que vai surgindo. é definir o pelo. o caminho. a origem. o correto. e seguir excluindo todos que não seguem a cartilha. inclusive os da outra cartilha que não é a nossa. porque só a nossa cartilha é boa, correta e justa. só o nosso caminho é possível. 

mas isso é mentira. pessoas podem ter morais diferentes e uma não ser melhor que a outra. caminhos e vidas diferentes. claro que acho a minha melhor. porque é a minha. foi o caminho que eu fui trilhando que me trouxe aqui. é muito complicado achar que a conquista do outro não me representa porque não é como eu faria. se há algo que busco é o copo meio cheio. porque a vida me esvaziou copos demais até aqui pra eu não buscar as pequenas coisas. pequenas como um grupo imenso de mulheres se unir em menos de uma semana e conseguir uma desculpa afobada e bastante mal escrita de um galã e de uma emissora. não, a emissora não mudou tudo. mas houve união e é um começo. pequenas como fora do que se espera. inclusive de espectros políticos, porque são lutas por dignidade mínima, e isso foge ao escopo da direita ou da esquerda. ou deveria fugir. os começos são tímidos. as narrativas são longas. os caminhos são difíceis. ninguém chegou lá achando que cada passo era uma derrota. a gente chega lá se fortalecendo com os passos do caminho e crescendo com eles.