17.8.12

sempre me disseram que a história da família precisava ser escrita. nunca escrevi. vivia dizendo. um dia escrevo. um dia. daí, outro dia, pensei que podia escrever aqui. e vou tentar.

o nome é esquisito, verdade. é uma cidade. na bélgica. em teoria, meus antepassados eram os condes, os donos, sei lá, da cidade. parece que era sanguinários. uma família assim gente boa, de ladrões e assassinos. mas tergiverso, esses eu nunca conheci. o fato é que, no fim do séc. XIX os nobres, mesmo os ladrões e sanguinários, faliram. meu bisavô incluído. e ficou ali, no castelo, sem saber o que fazer. 

um dia, olhando pras paredes, teve uma ideia: fez cópias de todos os quadros ali presentes (dizem que tinha um dom pra pintura), vendeu os originais, colocou as cópias nas paredes, e vendeu o castelo. porteira fechada. 

foi pra côte d'azur. cassinos. festas. mulheres. champagne. não necesariamente nessa ordem. gastou a grana quase toda. alugou outro castelo. fez cópias de todos os quadros. vendeu os originais. entregou as chaves do castelo pro dono, e voltou pra côte d'azur. foi descendo. da bélgica, foi pra frança. foi descendo, decidiu ir pra espanha. mas daí foi descoberto.

e aí? o que a polícia ia fazer com um nobre, casado, com duas filhas já (a mais velha considerada bastarda, mas criada por ele), e uma mulher grávida? na impossibilidade de se provar exatamente o que tinha acontecido, ele foi convidado a sair da europa. deram uma passagem pros 4, só de ida, pro brasil. conta-se que meu avô nasceu no navio.