15.11.16

fraca

me impressiona. seguir buscando, como um farejador. e me impressiona. eu ser fraca e frágil e não resistir a olhar de volta. e me incomodar com o que foi feito para me incomodar. me impressiona a forma como é feito. a diligência de buscar um a um. me impressiona que eu não me sinta bem para falar e me incomode ao ver um a um buscando. me cercando como se fosse me deixar sem saída. eu saí duas, eu saí três, eu saio quatro vezes. eu saio quantas vezes eu precisar.

falando isso assim, a tosse parece que quer me abandonar. o corpo parece que não quer mais brigar comigo. falando assim eu posso aparentemente retomar o controle. o controle. ele não existe. eu preciso lembrar que o controle não existe. e que o que busca não vai ser encontrado. e eu vou seguir buscando o caminho que não é mais controlado. e eu vou seguir andando e seguir fazendo. e um dia eu vou olhar pra trás e rir. e falar com leveza do peso todo que ainda sinto hoje.

a você, obrigada pela ajuda quando foi. obrigada por me fazer perceber. e vai pelo seu caminho. eu sigo aqui. fraca de vez em quando. é uma das minhas qualidades.

14.11.16

aposta

uma vez eu ganhei uma aposta que queria perder. amigo disse que leu meus posts. leu o que eu escrevia. e que eu ia me apaixonar. eu ri horrores. e disse que gostaria que ele estivesse certo. mas num levava fé nenhuma nisso. até porque, né, gente? pra se apaixonar a gente precisa conhecer gente. e eu não sou a pessoa mais conhecer gente que existe. vivo bem no meu buraco.

ele deu um prazo. 90 dias, acho. 3 meses. ao fim de 3 meses eu tava encerrando o semestre do doutorado. dormindo talvez 5 horas por dia. andando com amigos muito queridos. mas nenhuma paixão. nem sombra disso. eu gosto do que eu faço e não é muito comum presença masculina na minha vida. sabe aquela frase que geral fala que os homens são homoafetivos? que só se encontram com mulheres para sexo? pois anotem aí: eu ando homoafetiva. e nem ando encontrando com homens para sexo.

esse texto é uma exposição, eu sei. eu me exponho bastante na vida, sempre. mas na verdade é uma brincadeira. arthur, amigo. ajuda aí. vão fazer 180 dias. e nada de eu me apaixonar.

6.11.16

cachorro

sobre as mazelas da vida. como o cabelo que não para de sair da máquina: no prédio tem  dois cachorros que moram, acho, no terceiro andar. no prédio não tem elevador. moro no primeiro. os cachorros, todo dia por volta das 8h e das 20h, descem e sobem as escadas, uma hora depois, latindo. latindo todos os 3 andares para descer. latindo todos os 3 andares para subir.

eu adoro bicho. adoro cachorro, especialmente. tive bicho em casa a minha vida quase toda. quase todos os 40 anos. cachorros grandes, pequenos, de raça, viralatas, adotados, ganhos. gatos de todos os tamanhos. de todas as idades. periquitos. eu coloco garrafas de água pra passarinhos virem beber na varanda e fico sentada nela esperando as borboletas quando o tempo volta a esquentar. eu amo bichos. não do tipo que ama mais bichos que seres humanos. nada é mais legal que um ser humano, gente. nadica de nada. um ser humano dança. e pensa. e vem na sua casa no sábado de tarde cozinhar com você e falar de trabalho, de vida, de filme, de música. um ser humano crê e concorda, e discorda, e divide a cadeira e a vida. a gente ri com os outros seres humanos de uma maneira que mesmo a entrega dos bichos não pode substituir. enfim. tergiverso. eu amo bichos.

mas eu não aguento mais, gente. todo dia. chova ou faça sol. na mesma hora. dez minutos de latido. o barulho se escuta na casa inteira. outro dia esbarrei com ela. os cachorros latindo e descendo a escada. saí do caminho "não, eles só latem" cara. minha senhora. descer uma escada de pedra com eco e dois cachorros latindo enlouquece sem nada acontecer. outro dia minha mãe esbarrou com ela. "eles só latem porque não gostam do cachorro do vizinho" o cachorro do vizinho é quase mudo, gente. quase mudo. é um labrador pastel, sabe? mas aparentemente esses dois cachorros dos infernos são lindos e fofos. sou eu. é o vizinho. o meu irmão. o cachorro do outro vizinho. é a chuva. o sol. o porteiro. são os outros que fazem eles latirem. eu disse que ela berra em resposta pedindo silêncio? pois berra.

tudo isso pra perguntar a vocês uma coisa: tem algum floral. alguma pedra. algum reiki. algum cheiro no corredor. qualquer coisa. pra fazer esses cachorros se acalmarem? faz mais de ano que tô aqui, acho que ainda são jovens e terei ainda muitos anos deles latindo todo dia, de 12 em 12 horas.

5.11.16

love matters

love matters, babe. a gente anda a vida inteira tentando. ser independente. dar conta. família. amigos. trabalho. estudos. a gente vai dando conta aos trancos e barrancos e coisas vão ficando pelo caminho. e um dia, no meio do que devia estar no escaninho de estudos. a gente consegue uma coisa que parecia que não ia mais conseguir. porque tem gente que acha que passou da hora e nunca passou.

e a gente cozinha de novo pra muita gente como fazia muito tempo que não cozinhava. e abre a casa. e ri e dança. e pode abraçar e rir e ficar bem. esquecer até que tá com a roupa errada. que não gosta da roupa que tá usando. porque love matters. e se sentir bem como fazia tempo que não se sentia. porque em casa. porque no meio da confusão toda. achou outra casa. como já foi em outros lugares. e agora tá aqui. porque a casa muda. e mesmo depois dos quarenta. a gente pode descobrir o novo lugar e ser outra, de novo.

3.11.16

referências

– mas você já se acostumou?
– com que, gente?
– com esses olhares atravessados
– ih, menino, nem percebo...

eu queria dizer que é porque sou elevada. é só que eu não percebo se olham pra mim. se olham atravessado pra um amigo meu eu sou capaz de virar bicho. comigo? não olho. não vejo. não quero. tô bem. talvez isso explique minha incapacidade para o flerte. isso e o fato da cabeça estar raspada. não, pera.

ainda tem cabelo na máquina. ainda e sempre tá tudo uma zona. eu curto a zona, já disse? mas enfim. nem era sobre isso. era sobre eu não perceber. eu não vejo os olhares tortos. eu sobrevivi a roupas curtas demais, barrigas de fora demais, piercings demais. tatuagem. cabelo curto. cabelo vermelho. cabelo comprido. cabelo branco. maquiagem vermelha. boot. eu uso anéis demais. pulseiras demais. brincos enormes. o único jeito de sobreviver é não ver pra mim. a cara é feia? a cara deve ser feia. e o problema é da pessoa. desculpa. 

a gente aqui. que não quer ter o cabelo da capa de revista. o comportamento da capa da revista. o corpo da capa da revista. a gente vai levar cara feia. é um fato. cada um se defende como pode. eu me defendo não vendo. 

ainda insisto: os homens que me interessam acham mais bonito.

2.11.16

cabelo

eu sou dessas caricaturas. algo não foi bem. corto cabelo. pinto cabelo. mudo cabelo. algo foi bem. corto cabelo. pinto cabelo. mudo cabelo. meu cabelo funciona, então, como uma espécie de anel do humor. lembram disso, dos anos 90? era um anel que mudava de cor com a temperatura. em formato de smiley (que hoje em dia chama emoticon, acho) ou de yin/yang. eu tinha um de cada. eu sou uma árvore de natal de tanto enfeite.

bom. isso foi a introdução. acontece que no dia da eleição eu tinha prometido raspar se freixo ganhasse. não ganhou, mas eu resolvi raspar. pra gastar o mau humor. e deixar ele lá, enterrado, junto com a tristeza e a desesperança. a vida precisa ser leve ou não acontece. eu faço umas coisas sem metas. porque eu desisti do mba faz é tempo. a vida não é mba. não tem plano de negócios. enfim. tergiverso. eu passei máquina 4 mesmo com s. judas não tendo entregue a causa impossível. não precisava. posso dar a ele a careca. e ele me dá o que puder depois. vai que me dá vida amorosa?

daí pra não sujar a casa, pus um pano debaixo da cadeira e passei a máquina. eu falei que eu tenho uma quantidade brutal de cabelo? e que isso é ligado ao fato de eu não ter medo de fazer merda com ele? ele cresce de novo em quantidades brutais. com um fio de cada cor entre o branco, o louro e o castanho. então, né? pra que ter medo. e passei a máquina e montes de cabelo ficaram no pano. e no vestido e na cadeira. e o que eu fiz? enrolei o pano e o vestido e deixei na varanda. passei aspirador em mim e na sala.

no dia seguinte. eu não avisei a diarista, que veio aqui em casa, de como eu tinha raspado a cabeça. o que ela fez? colocou o pano para lavar na máquina, sem desdobrar. me pareceu um raciocínio até simples, na real. o erro estúpido foi meu, claro, de não informar a uma pessoa. paga para limpar as coisas. que aquela coisa tinha uma sujeira específica. pessoas não são adivinhas.

daí estou eu até hoje. com cabelo saindo da máquina de lavar roupa. tirei e limpei o filtro. minha mãe quis colocar o filtro sozinha na máquina enquanto eu tomava banho. saí do banho e tinha água até na sala (a casa é toda de um piso só, sem batente). e toma secar cozinha. secar área. tirar cabelo. o lençol lavado depois. tem cabelo. as roupas. tem cabelo. cara. nunca desejei tanto ser realmente careca.