12.11.13

Saia Velha


Cabelo horroroso, roupa velha e claro, a metade homem do casal mais lindo do mundo desce o elevador comigo. Mariana pensou e se olhou no espelho. Não, nada se salva. A saia ainda por cima tem um laçarote que por baixo da blusa frouxa faz um murundum. Coisa horrorosa. A saia tinha um furo. queimadura de cigarro. Mariana ficou fixada naquilo. Olhando no espelho. Pra que morar em andar alto, gente? A metade abre a porta pra ela passar. Não sem rir. Era sempre assim. Aqueles dois deixavam ela meio tonta. 

Desde que se mudaram pro prédio, era sempre o mesmo drama pra ela. Queria estar arrumada. Pros dois. Cheirosa. Estava criando uma relação inteira na sua cabeça. De repente era isso que chamam de loucura. Deixa. Nenhum dos dois nunca iria olhar pra ela. Sem graça. Normal. Os dois espetáculos de seres humanos. Affe. Andou até a barraca de pastel. Parando pra pensar, por que diabos tinha ido na feira assim? Era sábado, a barraca de pastel ficava sempre cheia. 

Mariana andava meio desleixada. Lembrou da avó e ficou meio triste com isso. Ela não iria gostar. Melhor mudar. Na volta do pastel, encontrou com o casal inteiro. Se falaram. Tinha algo de triste nos dois. Como nela. De repente ela tava só projetando. Saíram no décimo andar. Ela ainda continuou. Décimo sexto. Via a cidade do alto. Dali dava até pra ver uma nesga do mar. Pleno Botafogo. Parando pra pensar, era exótico mesmo. Curtia morar ali. Na verdade, tinha morado ali perto a vida inteira. O casal tinha se mudado fazia pouco. Sem filhos. Eram lindos. Lindos de doer. E Mariana, sempre a careta, não sabia lidar com aquilo que sentia. Também, lidar com o que?

Decidiu parar com aquilo. Aquele mormaço de vida, sabe? Onde nada acontece? Nada andava fazia um tempo. Levantou e tomou uma atitude um tanto mulherzinha, mas foi só no que conseguiu pensar. Marcou hora no salão. Cortar e pintar o cabelo. Fazer as unhas. Sair dali sem olhar envergonhada pro espelho. Enfim. Foi lá e mudou tudo. Emendou com um bar com as amigas. Riu e bebeu e conversou até cansar. Voltou pra casa. E uma mão segurou a porta do elevador pra ela. A metade homem do casal mais lindo do mundo saindo com uma malinha nas mãos. Cumprimentou o rapaz, de olhos vermelhos. O álcool fez com que achasse normal perguntar se estava tudo bem. Com um sotaque que entregava que ele não era dali, veio a resposta. Um não, claro. Perguntou, já que o álcool tava dando forças, se ele tinha pra onde ir. Hotel, disse, ia catar um ali perto. Falou pra subir. Descansar a cabeça no sofá dela e amanhã falar de novo. Na verdade, mais do que atraída por ele, Mariana não estava se conformando com o casal mais lindo do mundo brigar.

O nome dele era Rodrigo. Nome comum. Eles eram do Recife. Ele tinha sido transferido. Já andavam complicadas as coisas antes de saírem de lá. Moravam em Casa Forte, perto de onde Mariana sempre ficava quando ia passar férias por lá, na casa de uma amiga. A mulher se chamava Laura. Eles não sabiam mais porque estavam juntos, na verdade. Se casaram assim que acabaram a faculdade. Aquelas histórias que se ouvem tantas vezes. Mariana também falou da vida dela. Abriu mais uma cerveja. O casamento com Pedro tinha sido um desastre do começo ao fim. Se casaram porque Mariana se descobriu grávida. E acharam lindo aquilo. Sofreu um aborto espontâneo no terceiro mês, como tanta gente. Tentaram provar pro mundo que o casamento não era a gravidez. Mas era.

Laura era linda, Mariana não conseguia enxergar aqueles defeitos todos que Rodrigo via nela. É só raiva do momento, disse pra ele. Ele riu. Passou a mão nos cabelos de Mariana. Desceu até a cintura. E treparam, claro. Como há muito Mariana não fazia. Um tesão absolutamente louco. Ela não conseguiu pensar que estava errada. Que nada. Só existia ela e Rodrigo. E o sofá. O chão. A cama. A pele castanha dele. Lisa. Quase sem pelos. Os olhos claros. Aqueles dreads. Os dedos dele apertando as ancas. Os peitos dela. As bocas se mordendo. O suor escorrendo pelo corpo inteiro. Até o sol nascer.

O telefone tocou. O dele. Laura, claro. Domingo, quem mais ia ligar a essa hora? Rodrigo atendeu, claro. E falou, suavemente. Mariana nem acreditou. Pra Laura subir.

2 comentários:

Unknown disse...

show, Tuinha! arrasando!

Unknown disse...

show, Tuinha! arrasando!!! :*