1.11.13

Bom dia?

Quando acordou, Tânia não lembrava bem como tinha ido parar ali. Abriu os olhos, e sabia exatamente onde estava. Na casa de uns amigos. Mais exatamente na sala. Só não lembrava de ir prali antes de dormir.
Tinha saído com Marcelo. Japonês. Saquê. Foi o saquê. Deve ter discutido. Por que diabos ninguém acorda? Não tem um ser humano ali pra ajudar a refazer a memória? Bom. Levantar. Olhar pro lado com certo medo. Nada. ufa. Tava sozinha. Mas sem roupas. Olhou pro lado de novo – as roupas não estavam ali, mas uma toalha. Se enrolou e foi na área. Como tinha pensado, as roupas estavam no varal. Era oficial. A coisa tinha ficado feia.
Resolveu tentar relaxar e fazer o café. Adriana não ia achar ruim. Pôs a chaleira no fogo. Achou sua bolsa. Sem o celular.
– Tá melhor? Conseguiu dormir?
Era Adriana acordando. Não sabia como ou o que responder. Nem ressaca tinha. Só uma absoluta falta de memória do que tinha acontecido na véspera.
– Bom dia, flor. Tô, só não lembro de bissolutamente nada. Me ajuda aqui?
Adriana riu.
– Não posso ajudar muito. Você apareceu aqui. Chorando. Suja. Roupa arrumada. Parece que você brigou com o Marcelo no meio do restaurante. Quebrou o vidro do carro dele com o celular. Mas não sei se é verdade. Você chorava muito. Tava passando mal. Eu te dei um banho, lavei suas roupas. Vc apagou depois do banho. Na verdade, eu tava torcendo pra você me contar o que aconteceu hoje...

Píííííííííííí

– A chaleira – disse Tânia
Voltaram pra cozinha.
– Você deveria tentar achar o Marcelo. Cancelar o celular, que não sei se realmente quebrou.
Adriana sempre fora prática. Muito mais sensata do que ela. Era verdade. Mais do que falar. Era hora de parar de tentar com Marcelo.
– Você tá namorando com ele porque, amore?
– Não sei, Dri. Ou sei. Porque é ele, porque sou eu. Porque a gente já desistiu de se evitar. Mas parece que não tá funcionando. O que quer que seja.
– Isso percebi. Você tava transtornada. Relatava uma briga que, quero acreditar, é invenção sua, como tantas outras.
– Eu sei. Eu sei que o mundo na minha cabeça é diferente. Que eu amplio as coisas. Mas, no caso, eu realmente não sei. Marcelo pisou na bola. Me contou umas coisas que eu sei que são mentira. Brigamos mais cedo, e saímos para jantar meio que para fazer as pazes. Cheia de mágoa e saquê...
– Tânia, tem coisas que não entendo. Por que aqui em casa? Sua mãe tá viajando?
– Flor, do jantar em diante eu não lembro. Lembro que tomamos umas duas garrafas de saquê. Que falamos besteira. Futebol, notícias, ssascoisa. Mas perdi em algum momento qualquer lembrança. Preciso ligar pra ele. Tentar descobrir se ele lembra. E resolver isso. Mas não tenho coragem.
– Tá, fica aí, descansa. Vou com você na sua casa, pra você pegar umas roupas. Mesmo se vocês decidirem voltar, melhor dar um tempo. Pra abaixar a poeira.

....... (continua)

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