me impressiona. seguir buscando, como um farejador. e me impressiona. eu ser fraca e frágil e não resistir a olhar de volta. e me incomodar com o que foi feito para me incomodar. me impressiona a forma como é feito. a diligência de buscar um a um. me impressiona que eu não me sinta bem para falar e me incomode ao ver um a um buscando. me cercando como se fosse me deixar sem saída. eu saí duas, eu saí três, eu saio quatro vezes. eu saio quantas vezes eu precisar.
falando isso assim, a tosse parece que quer me abandonar. o corpo parece que não quer mais brigar comigo. falando assim eu posso aparentemente retomar o controle. o controle. ele não existe. eu preciso lembrar que o controle não existe. e que o que busca não vai ser encontrado. e eu vou seguir buscando o caminho que não é mais controlado. e eu vou seguir andando e seguir fazendo. e um dia eu vou olhar pra trás e rir. e falar com leveza do peso todo que ainda sinto hoje.
a você, obrigada pela ajuda quando foi. obrigada por me fazer perceber. e vai pelo seu caminho. eu sigo aqui. fraca de vez em quando. é uma das minhas qualidades.
explica-se... na família, muito morena, nasce a loirinha aqui. meu avô olha, olha... e solta essa, nasci branca por cruza, algo deveria explicar...
aqui apenas os fatos são inventados
o essencial da arte é exprimir;
o que se exprime não interessa
fernando pessoa
15.11.16
14.11.16
aposta
uma vez eu ganhei uma aposta que queria perder. amigo disse que leu meus posts. leu o que eu escrevia. e que eu ia me apaixonar. eu ri horrores. e disse que gostaria que ele estivesse certo. mas num levava fé nenhuma nisso. até porque, né, gente? pra se apaixonar a gente precisa conhecer gente. e eu não sou a pessoa mais conhecer gente que existe. vivo bem no meu buraco.
ele deu um prazo. 90 dias, acho. 3 meses. ao fim de 3 meses eu tava encerrando o semestre do doutorado. dormindo talvez 5 horas por dia. andando com amigos muito queridos. mas nenhuma paixão. nem sombra disso. eu gosto do que eu faço e não é muito comum presença masculina na minha vida. sabe aquela frase que geral fala que os homens são homoafetivos? que só se encontram com mulheres para sexo? pois anotem aí: eu ando homoafetiva. e nem ando encontrando com homens para sexo.
esse texto é uma exposição, eu sei. eu me exponho bastante na vida, sempre. mas na verdade é uma brincadeira. arthur, amigo. ajuda aí. vão fazer 180 dias. e nada de eu me apaixonar.
ele deu um prazo. 90 dias, acho. 3 meses. ao fim de 3 meses eu tava encerrando o semestre do doutorado. dormindo talvez 5 horas por dia. andando com amigos muito queridos. mas nenhuma paixão. nem sombra disso. eu gosto do que eu faço e não é muito comum presença masculina na minha vida. sabe aquela frase que geral fala que os homens são homoafetivos? que só se encontram com mulheres para sexo? pois anotem aí: eu ando homoafetiva. e nem ando encontrando com homens para sexo.
esse texto é uma exposição, eu sei. eu me exponho bastante na vida, sempre. mas na verdade é uma brincadeira. arthur, amigo. ajuda aí. vão fazer 180 dias. e nada de eu me apaixonar.
6.11.16
cachorro
sobre as mazelas da vida. como o cabelo que não para de sair da máquina: no prédio tem dois cachorros que moram, acho, no terceiro andar. no prédio não tem elevador. moro no primeiro. os cachorros, todo dia por volta das 8h e das 20h, descem e sobem as escadas, uma hora depois, latindo. latindo todos os 3 andares para descer. latindo todos os 3 andares para subir.
eu adoro bicho. adoro cachorro, especialmente. tive bicho em casa a minha vida quase toda. quase todos os 40 anos. cachorros grandes, pequenos, de raça, viralatas, adotados, ganhos. gatos de todos os tamanhos. de todas as idades. periquitos. eu coloco garrafas de água pra passarinhos virem beber na varanda e fico sentada nela esperando as borboletas quando o tempo volta a esquentar. eu amo bichos. não do tipo que ama mais bichos que seres humanos. nada é mais legal que um ser humano, gente. nadica de nada. um ser humano dança. e pensa. e vem na sua casa no sábado de tarde cozinhar com você e falar de trabalho, de vida, de filme, de música. um ser humano crê e concorda, e discorda, e divide a cadeira e a vida. a gente ri com os outros seres humanos de uma maneira que mesmo a entrega dos bichos não pode substituir. enfim. tergiverso. eu amo bichos.
mas eu não aguento mais, gente. todo dia. chova ou faça sol. na mesma hora. dez minutos de latido. o barulho se escuta na casa inteira. outro dia esbarrei com ela. os cachorros latindo e descendo a escada. saí do caminho "não, eles só latem" cara. minha senhora. descer uma escada de pedra com eco e dois cachorros latindo enlouquece sem nada acontecer. outro dia minha mãe esbarrou com ela. "eles só latem porque não gostam do cachorro do vizinho" o cachorro do vizinho é quase mudo, gente. quase mudo. é um labrador pastel, sabe? mas aparentemente esses dois cachorros dos infernos são lindos e fofos. sou eu. é o vizinho. o meu irmão. o cachorro do outro vizinho. é a chuva. o sol. o porteiro. são os outros que fazem eles latirem. eu disse que ela berra em resposta pedindo silêncio? pois berra.
tudo isso pra perguntar a vocês uma coisa: tem algum floral. alguma pedra. algum reiki. algum cheiro no corredor. qualquer coisa. pra fazer esses cachorros se acalmarem? faz mais de ano que tô aqui, acho que ainda são jovens e terei ainda muitos anos deles latindo todo dia, de 12 em 12 horas.
eu adoro bicho. adoro cachorro, especialmente. tive bicho em casa a minha vida quase toda. quase todos os 40 anos. cachorros grandes, pequenos, de raça, viralatas, adotados, ganhos. gatos de todos os tamanhos. de todas as idades. periquitos. eu coloco garrafas de água pra passarinhos virem beber na varanda e fico sentada nela esperando as borboletas quando o tempo volta a esquentar. eu amo bichos. não do tipo que ama mais bichos que seres humanos. nada é mais legal que um ser humano, gente. nadica de nada. um ser humano dança. e pensa. e vem na sua casa no sábado de tarde cozinhar com você e falar de trabalho, de vida, de filme, de música. um ser humano crê e concorda, e discorda, e divide a cadeira e a vida. a gente ri com os outros seres humanos de uma maneira que mesmo a entrega dos bichos não pode substituir. enfim. tergiverso. eu amo bichos.
mas eu não aguento mais, gente. todo dia. chova ou faça sol. na mesma hora. dez minutos de latido. o barulho se escuta na casa inteira. outro dia esbarrei com ela. os cachorros latindo e descendo a escada. saí do caminho "não, eles só latem" cara. minha senhora. descer uma escada de pedra com eco e dois cachorros latindo enlouquece sem nada acontecer. outro dia minha mãe esbarrou com ela. "eles só latem porque não gostam do cachorro do vizinho" o cachorro do vizinho é quase mudo, gente. quase mudo. é um labrador pastel, sabe? mas aparentemente esses dois cachorros dos infernos são lindos e fofos. sou eu. é o vizinho. o meu irmão. o cachorro do outro vizinho. é a chuva. o sol. o porteiro. são os outros que fazem eles latirem. eu disse que ela berra em resposta pedindo silêncio? pois berra.
tudo isso pra perguntar a vocês uma coisa: tem algum floral. alguma pedra. algum reiki. algum cheiro no corredor. qualquer coisa. pra fazer esses cachorros se acalmarem? faz mais de ano que tô aqui, acho que ainda são jovens e terei ainda muitos anos deles latindo todo dia, de 12 em 12 horas.
5.11.16
love matters
love matters, babe. a gente anda a vida inteira tentando. ser independente. dar conta. família. amigos. trabalho. estudos. a gente vai dando conta aos trancos e barrancos e coisas vão ficando pelo caminho. e um dia, no meio do que devia estar no escaninho de estudos. a gente consegue uma coisa que parecia que não ia mais conseguir. porque tem gente que acha que passou da hora e nunca passou.
e a gente cozinha de novo pra muita gente como fazia muito tempo que não cozinhava. e abre a casa. e ri e dança. e pode abraçar e rir e ficar bem. esquecer até que tá com a roupa errada. que não gosta da roupa que tá usando. porque love matters. e se sentir bem como fazia tempo que não se sentia. porque em casa. porque no meio da confusão toda. achou outra casa. como já foi em outros lugares. e agora tá aqui. porque a casa muda. e mesmo depois dos quarenta. a gente pode descobrir o novo lugar e ser outra, de novo.
e a gente cozinha de novo pra muita gente como fazia muito tempo que não cozinhava. e abre a casa. e ri e dança. e pode abraçar e rir e ficar bem. esquecer até que tá com a roupa errada. que não gosta da roupa que tá usando. porque love matters. e se sentir bem como fazia tempo que não se sentia. porque em casa. porque no meio da confusão toda. achou outra casa. como já foi em outros lugares. e agora tá aqui. porque a casa muda. e mesmo depois dos quarenta. a gente pode descobrir o novo lugar e ser outra, de novo.
3.11.16
referências
– mas você já se acostumou?
– com que, gente?
– com esses olhares atravessados
– ih, menino, nem percebo...
eu queria dizer que é porque sou elevada. é só que eu não percebo se olham pra mim. se olham atravessado pra um amigo meu eu sou capaz de virar bicho. comigo? não olho. não vejo. não quero. tô bem. talvez isso explique minha incapacidade para o flerte. isso e o fato da cabeça estar raspada. não, pera.
ainda tem cabelo na máquina. ainda e sempre tá tudo uma zona. eu curto a zona, já disse? mas enfim. nem era sobre isso. era sobre eu não perceber. eu não vejo os olhares tortos. eu sobrevivi a roupas curtas demais, barrigas de fora demais, piercings demais. tatuagem. cabelo curto. cabelo vermelho. cabelo comprido. cabelo branco. maquiagem vermelha. boot. eu uso anéis demais. pulseiras demais. brincos enormes. o único jeito de sobreviver é não ver pra mim. a cara é feia? a cara deve ser feia. e o problema é da pessoa. desculpa.
a gente aqui. que não quer ter o cabelo da capa de revista. o comportamento da capa da revista. o corpo da capa da revista. a gente vai levar cara feia. é um fato. cada um se defende como pode. eu me defendo não vendo.
ainda insisto: os homens que me interessam acham mais bonito.
2.11.16
cabelo
eu sou dessas caricaturas. algo não foi bem. corto cabelo. pinto cabelo. mudo cabelo. algo foi bem. corto cabelo. pinto cabelo. mudo cabelo. meu cabelo funciona, então, como uma espécie de anel do humor. lembram disso, dos anos 90? era um anel que mudava de cor com a temperatura. em formato de smiley (que hoje em dia chama emoticon, acho) ou de yin/yang. eu tinha um de cada. eu sou uma árvore de natal de tanto enfeite.
bom. isso foi a introdução. acontece que no dia da eleição eu tinha prometido raspar se freixo ganhasse. não ganhou, mas eu resolvi raspar. pra gastar o mau humor. e deixar ele lá, enterrado, junto com a tristeza e a desesperança. a vida precisa ser leve ou não acontece. eu faço umas coisas sem metas. porque eu desisti do mba faz é tempo. a vida não é mba. não tem plano de negócios. enfim. tergiverso. eu passei máquina 4 mesmo com s. judas não tendo entregue a causa impossível. não precisava. posso dar a ele a careca. e ele me dá o que puder depois. vai que me dá vida amorosa?
daí pra não sujar a casa, pus um pano debaixo da cadeira e passei a máquina. eu falei que eu tenho uma quantidade brutal de cabelo? e que isso é ligado ao fato de eu não ter medo de fazer merda com ele? ele cresce de novo em quantidades brutais. com um fio de cada cor entre o branco, o louro e o castanho. então, né? pra que ter medo. e passei a máquina e montes de cabelo ficaram no pano. e no vestido e na cadeira. e o que eu fiz? enrolei o pano e o vestido e deixei na varanda. passei aspirador em mim e na sala.
no dia seguinte. eu não avisei a diarista, que veio aqui em casa, de como eu tinha raspado a cabeça. o que ela fez? colocou o pano para lavar na máquina, sem desdobrar. me pareceu um raciocínio até simples, na real. o erro estúpido foi meu, claro, de não informar a uma pessoa. paga para limpar as coisas. que aquela coisa tinha uma sujeira específica. pessoas não são adivinhas.
daí estou eu até hoje. com cabelo saindo da máquina de lavar roupa. tirei e limpei o filtro. minha mãe quis colocar o filtro sozinha na máquina enquanto eu tomava banho. saí do banho e tinha água até na sala (a casa é toda de um piso só, sem batente). e toma secar cozinha. secar área. tirar cabelo. o lençol lavado depois. tem cabelo. as roupas. tem cabelo. cara. nunca desejei tanto ser realmente careca.
bom. isso foi a introdução. acontece que no dia da eleição eu tinha prometido raspar se freixo ganhasse. não ganhou, mas eu resolvi raspar. pra gastar o mau humor. e deixar ele lá, enterrado, junto com a tristeza e a desesperança. a vida precisa ser leve ou não acontece. eu faço umas coisas sem metas. porque eu desisti do mba faz é tempo. a vida não é mba. não tem plano de negócios. enfim. tergiverso. eu passei máquina 4 mesmo com s. judas não tendo entregue a causa impossível. não precisava. posso dar a ele a careca. e ele me dá o que puder depois. vai que me dá vida amorosa?
daí pra não sujar a casa, pus um pano debaixo da cadeira e passei a máquina. eu falei que eu tenho uma quantidade brutal de cabelo? e que isso é ligado ao fato de eu não ter medo de fazer merda com ele? ele cresce de novo em quantidades brutais. com um fio de cada cor entre o branco, o louro e o castanho. então, né? pra que ter medo. e passei a máquina e montes de cabelo ficaram no pano. e no vestido e na cadeira. e o que eu fiz? enrolei o pano e o vestido e deixei na varanda. passei aspirador em mim e na sala.
no dia seguinte. eu não avisei a diarista, que veio aqui em casa, de como eu tinha raspado a cabeça. o que ela fez? colocou o pano para lavar na máquina, sem desdobrar. me pareceu um raciocínio até simples, na real. o erro estúpido foi meu, claro, de não informar a uma pessoa. paga para limpar as coisas. que aquela coisa tinha uma sujeira específica. pessoas não são adivinhas.
daí estou eu até hoje. com cabelo saindo da máquina de lavar roupa. tirei e limpei o filtro. minha mãe quis colocar o filtro sozinha na máquina enquanto eu tomava banho. saí do banho e tinha água até na sala (a casa é toda de um piso só, sem batente). e toma secar cozinha. secar área. tirar cabelo. o lençol lavado depois. tem cabelo. as roupas. tem cabelo. cara. nunca desejei tanto ser realmente careca.
10.10.16
já mudei
na verdade. eu quero saber o problema. em ser radical. em ser petista. em ser vadia. eu quero saber o problema. em não ser essa caixinha daí que você considera aceitável. porque eu não sou. eu tenho 40 anos e uso minissaia. e fui a reunião do pt, e fiz campanha desde 89. eu acredito em estudar e procurar entender as coisas. radicalmente. no sentido etimológico da palavra. porque eu não tenho raiz, mas as coisas tem. eu quero saber qual é o problema. porque a gente fica se desculpando e tentando dizer que não fala as coisas por ter lado. eu falo por ter lado, sim. e ter lado não significa estar errado. todo mundo tem seu lado. a maior falácia do mundo é a existência de um ser sem ideologia. de um ser sem lado. isolado. não estamos. escolhe aí. ou assume aí. mas para de tentar se colocar nesse papel puro. porque isso não te faz um pensador. te faz uma pessoa que não tem coragem. e quem não tem coragem tem medo do outro que tem coragem. porque é insuportável falar com quem faz o que a gente quer e não consegue fazer. a gente se sente diminuído. sai dessa. ouve o outro. conversa. tenha coragem. e tira as suas caixinhas dos meus pés. ou terei de trocar de biografia. pra por todas as etiquetas que tentaram me colocar na vida. vai ser longa. terão muitas. eu arranco todas. feito band aid. nem que pra isso eu me foda no caminho. eu não fico com elas. o meu caminho sou eu que faço. eu que determino. não me coloca no seu. não me diga que coisas eu devo me orgulhar ou sentir vergonha. não é você.
9.10.16
radical
eu tenho alguma noção de que esse texto não deve chegar a quem eu queria que chegasse. esses que acham que eu sou isso daí de radical. esses que acham que ser radical é algo ruim. algo que prevê quebras e perdas de todas as formas. esses que morrem de medo de mudança. eu sei disso. e acho uma pena. de algum jeito, eu queria falar com eles. segurar a mão e falar: cara. você me conhece. me vê na rua. é da minha família. estuda comigo. você sabe que eu não quebro nada (no máximo tropeço e caio). que eu sou uma ermitona um tanto tímida e de voz baixa. você sabe que eu escolho as brigas e já deixei na adolescência as brigas de bar e discussões na rua. você sabe que eu sou turrona mas me calo pra ouvir o outro. mas enfim. eu queria ser ouvida hoje. pra falar disso daí, dessa ideia do radical. do outro como fonte do medo.
eu posso falar que isso é filosoficamente estudado. a alteridade como fonte de medo e ódio. que isso é parte da engrenagem que gera o racismo. e parte da engrenagem que mantém o capitalismo. eu posso falar que um bando de coisa que eu não sei se você conhece. mas eu vou tentar falar sem ser assim. falar mostrando que não somos, todos, o outro do outro. os infernos dos outros. a gente não precisa eleger o outro assim com tanta força. o outro pode mudar. a gente pode mudar.
vem comigo aqui que eu te ajudo. mudar pode ser delicioso. a gente é mais forte como grupo. isso não é ser radical. é tentar acreditar no homem como medida de todas as coisas. no homem. acreditar que a gente pode. que a gente tem poder. o que eu busco, e tantos como eu, aqui, na caixa de ressonância e fora dela, não é uma quebra radical de tudo. é uma mudança, talvez radical, que permita que existam menos outros amedrontadores no mundo. é tirar de quem tem esse medo todo. mas me diz. por que você quer ter esse medo? acho que no frigir dos ovos, o que eu quero saber é isso: o que esse medo tem que as pessoas querem ele ao seu lado? ele é constituinte delas? tem gente que diz que sim. eu queria acreditar que não. que esse medo pode ser tirado. que podemos conversar aqui. e no mundo. para tentar entender. porque nesse instante. nessa hora. eu entendo muito pouco e busco muita coisa.
mas deixa. eu sou a maluca que gosta de roupa extravagante. que raspa a cabeça. que não entende você. mas eu quero entender. me explica. por que eu e os meus te ameaçamos? eu quero entender, porque eu não me sinto ameaçada pelos outros.
eu posso falar que isso é filosoficamente estudado. a alteridade como fonte de medo e ódio. que isso é parte da engrenagem que gera o racismo. e parte da engrenagem que mantém o capitalismo. eu posso falar que um bando de coisa que eu não sei se você conhece. mas eu vou tentar falar sem ser assim. falar mostrando que não somos, todos, o outro do outro. os infernos dos outros. a gente não precisa eleger o outro assim com tanta força. o outro pode mudar. a gente pode mudar.
vem comigo aqui que eu te ajudo. mudar pode ser delicioso. a gente é mais forte como grupo. isso não é ser radical. é tentar acreditar no homem como medida de todas as coisas. no homem. acreditar que a gente pode. que a gente tem poder. o que eu busco, e tantos como eu, aqui, na caixa de ressonância e fora dela, não é uma quebra radical de tudo. é uma mudança, talvez radical, que permita que existam menos outros amedrontadores no mundo. é tirar de quem tem esse medo todo. mas me diz. por que você quer ter esse medo? acho que no frigir dos ovos, o que eu quero saber é isso: o que esse medo tem que as pessoas querem ele ao seu lado? ele é constituinte delas? tem gente que diz que sim. eu queria acreditar que não. que esse medo pode ser tirado. que podemos conversar aqui. e no mundo. para tentar entender. porque nesse instante. nessa hora. eu entendo muito pouco e busco muita coisa.
mas deixa. eu sou a maluca que gosta de roupa extravagante. que raspa a cabeça. que não entende você. mas eu quero entender. me explica. por que eu e os meus te ameaçamos? eu quero entender, porque eu não me sinto ameaçada pelos outros.
4.10.16
os pontos
hoje acordei querendo entregar os pontos. e vou dormir do mesmo jeito. hoje o dia foi cansativo, improdutivo, foi dar murro em ponta de faca. hoje de quem eu quis ajuda eu tive conflito. de quem eu queria apoio, eu tive nada. hoje eu fui sozinha, eu fui cansada, eu fui brigando. hoje eu quero dormir e esquecer o hoje. quero ir pra cama e que todos os hojes se apaguem e todos os amanhãs possam aparecer. quero chorar até dormir sem ter de explicar nada. quero me exaurir e não saber mais nem porque eu comecei a chorar. porque eu não sei. se eu soubesse, talvez eu estivesse louca. eu choro porque hoje, porque amanhã, porque confusa, porque nada. choro porque não passa, não anda, não resolve. choro porque cada minuto do dia foi lutado, porque nem o pokémon me quis, porque eu tô cansada. porque eu tô cansada demais. porque eu não aguento mais e ainda falta muita estrada pra andar. e a sensação de que sempre falta muita estrada e que a estrada não vai acabar e eu tô cansada. hoje eu vou dormir e amanhã a estrada pelo menos vai ter flor. espero.
7.9.16
o sul
o sul é o meu país. não essa coisa fria do sul do país. não o sur mítico da américa. mas o sul dos subalternos. do negro. do que não é ocidental. no sul não somos iguais todos. no sul podemos mudar sempre. no sul os caminhos não são cartesianos. eu renego a lógica cartesiana que me criou. é complicado falar isso assim, eu sei. é difícil. não é lógico. mas eu aprendi faz muito tempo que a lógica. ela é superestimada. sobretudo aqui. nesse espaço que, queiramos ou não, não se curva ao cartesiano. não temos ruas quadriculadas. não temos acontecimentos lógicos. não temos sucessão histórica. a pergunta que fica pra mim é: qual a necessidade de buscar isso? se podemos construir esse outro a partir do que temos aqui?
temos aqui, no sul, o ocidente e a sua negação em convivência. podemos seguir tendo. precisamos seguir negando. porque o ocidente, aqui, entra como violência e como negação de cultura. como brutalidade. não precisamos repetir eternamente essa brutalidade. nada disso é exatamente o que eu queria dizer. tudo isso é um pouco do que eu quero ser. do que eu busco. novas formas. novas coisas. novos eus. novos nós. muito mais bacana do que buscar ser o que não somos. o que não querem que sejamos. o que não seremos jamais. fora do ocidente. fora do cartesianismo. podemos muito mais. muito. nossos corpos podem muito mais.
temos aqui, no sul, o ocidente e a sua negação em convivência. podemos seguir tendo. precisamos seguir negando. porque o ocidente, aqui, entra como violência e como negação de cultura. como brutalidade. não precisamos repetir eternamente essa brutalidade. nada disso é exatamente o que eu queria dizer. tudo isso é um pouco do que eu quero ser. do que eu busco. novas formas. novas coisas. novos eus. novos nós. muito mais bacana do que buscar ser o que não somos. o que não querem que sejamos. o que não seremos jamais. fora do ocidente. fora do cartesianismo. podemos muito mais. muito. nossos corpos podem muito mais.
5.9.16
ser guiada
quando eu era pequena. desde que eu me lembre. eu não queria ser menina. quer dizer. eu amava ser menina. eu amava coisas de menina. cores. saias. bonecas. unhas coloridas. cabelos longos. batom. eu nasci achando divertida a vaidade. detesto todo o resto. não gosto de cuidar de casa. não sei arrumar uma cama. não gosto de lavar a louça. só cozinho pra não morrer de fome. e, e isso é real, não faço carne porque tenho nojo. se morar sozinha, viro ovo-lacto vegetariana no mesmo dia. não gosto de passar o dia no salão e brigo no meio da rua. nunca fui uma boa mocinha. mas aprendi a ser mulher. me ensinaram. na verdade. eu gosto. fora a tal da menstruação. eu gosto. de usar as saias, as unhas, os enfeites, as tintas. claro que isso não é ser mulher. mas como nada define exatamente o que é. eu falo que é o que se aproxima dos signos considerados femininos.
tô definindo aqui. os que eu tenho. os outros eu não tenho. eu não sou delicada. não sou pequena. me recusei de forma bastante consciente e sistemática aos signos da mulher delicada. aos signos que me fechariam em uma definição. também me recusei aos da mulher intelectual, que deixa a vaidade de lado e não se penteia, e não faz as unhas. eu fui tentando achar os meus signos. e é sempre complicado buscar isso. um caminho e um espaço em que estamos, na verdade, sozinhos, porque ninguém está com a gente dentro da nossa cabeça, né?
e o meu caminho acabou sendo mais perto do pensar, da política, do questionar. e daí que não. eu não sei ser guiada. pode parecer que tem nada a ver. mas tem. e sabe o que é o pior? eu adoro dançar. eu tentei fazer aulas. eu tentei de tudo. eu sigo não deixando quase ninguém me guiar. e talvez essa seja a frustração da minha vida. não poder dançar.
tô definindo aqui. os que eu tenho. os outros eu não tenho. eu não sou delicada. não sou pequena. me recusei de forma bastante consciente e sistemática aos signos da mulher delicada. aos signos que me fechariam em uma definição. também me recusei aos da mulher intelectual, que deixa a vaidade de lado e não se penteia, e não faz as unhas. eu fui tentando achar os meus signos. e é sempre complicado buscar isso. um caminho e um espaço em que estamos, na verdade, sozinhos, porque ninguém está com a gente dentro da nossa cabeça, né?
e o meu caminho acabou sendo mais perto do pensar, da política, do questionar. e daí que não. eu não sei ser guiada. pode parecer que tem nada a ver. mas tem. e sabe o que é o pior? eu adoro dançar. eu tentei fazer aulas. eu tentei de tudo. eu sigo não deixando quase ninguém me guiar. e talvez essa seja a frustração da minha vida. não poder dançar.
1.9.16
pensar demais
eu penso demais. eu vivo na cabeça. eu narro o mundo porque pra mim ele só existe na narrativa. se eu estou calada. é porque eu queria estar falando. porque na produção de fala eu encontro sentido. não aquele sentido primordial que faz tudo parecer encaixado. eu deixo esse pros teóricos da conspiração e pros adolescentes que sabem o que fazem. mas sentido como em parecer que eu posso. não sei o que. mas posso.
nesse pensar demais, nessa fala, nessa pasmaceira de elefante, eu me aflijo e entendo quem precisa fazer o tempo todo. e eu uso e gosto dessas pessoas para poder agir. eu preciso dessa amizade. da pessoa que faz. eu preciso desse contraponto. eu falo. eu penso. eu crio. eu não sei agir. eu sozinha não saio daqui. exatamente de onde estou. sentada na cadeira com o computador e meus livros. eu poderia jamais na vida sair daqui. eu não ajo por mim. eu fico. estacionária como um elefante (eu adoro elefantes.
como eu amo saber que tem gente que vira pra mim e fala: vamos? porque eu vou. sempre. a sensação do corpo de que eu posso ser guiada. de que eu posso sair do sofá. de que alguém pode me falar o simples. dar o empurrão que eu, sozinha, não me dou. agradeço a todos os amigos que estão junto e me chamam pra ir. me dizem que devo ir. me sorriem e me falam o que preciso ouvir, fora da minha cabeça e dos livros tão amados. o mundo não é isso aqui.
tudo isso pra dizer que. o que se repete é o sintoma, é a forma do trauma. tá tudo errado mesmo. foi golpe. não posso ficar em casa agora. preciso sair para poder estar em conjunto e elaborar junto o que é que posso fazer no futuro. a elaboração individual, no mais das vezes, é só isso mesmo: elaboração individual. resolve com o analista, com o rabino, com o padre. cura culpa e dizem, até lumbago. mas não tenho agora nem culpa, nem lumbago. tenho pressa, tenho medo, tenho melancolia. essa. essas. eu vou curar com os amigos, com o junto, com o comum. não é o momento da minha cadeira.
11.8.16
fuga
fuga é um tipo de música em que parece que as notas saem correndo umas das outras. pra mim, ao menos. mas hoje me disseram que tenho muita imaginação. eu adoro fugas. me deixam com uma sensação de leveza. daí eu fui ler um post na renata. e ele falava de casas de mapa astral. e daí eu pensei na minha vida. em que estou aqui fugindo do trabalho vendo o mark spitz falar e esperando o phelps entrar na piscina.
eu fujo. eu saio correndo. eu não quero saber. eu esperneio, eu choro e eu fujo. faço muito bem. estou aqui reclamando da vida. de estar só. de estar mourejando com tanto trabalho. ok, de trabalho eu não fujo. eu gosto. eu peço. mas do resto... não se preocupem. eu posso voltar. um dia eu volto, quem sabe. mas eu preciso seguir indo e mudando. é bom. vocês deviam tentar. o salto no escuro. deixando pra trás tudo. um dia eu ainda saio do rio. mas o rio... talvez seja meu único relacionamento estável de verdade.
eu fujo. eu saio correndo. eu não quero saber. eu esperneio, eu choro e eu fujo. faço muito bem. estou aqui reclamando da vida. de estar só. de estar mourejando com tanto trabalho. ok, de trabalho eu não fujo. eu gosto. eu peço. mas do resto... não se preocupem. eu posso voltar. um dia eu volto, quem sabe. mas eu preciso seguir indo e mudando. é bom. vocês deviam tentar. o salto no escuro. deixando pra trás tudo. um dia eu ainda saio do rio. mas o rio... talvez seja meu único relacionamento estável de verdade.
5.8.16
alta cultura
não, sai daí. isso é infantilização. não, sai daí, não ouve essa música, ela é ruim. pera, isso é hiperssexualização. isso é bobo. isso é ruim. isso é infantil. isso é pouco sofisticado. isso não deve, não pode, não quero que exista. não devia existir, é isso.
então. assim. eu sou uma chata. uma chata que nasceu com 80 anos. uma chata que só ouve música dos anos 60. uma chata que só assiste filme velho (e adora musicais). uma chata que trabalha, vejam só, pesquisando literatura. mas a chata aqui aprendeu. na marra. debaixo de porrete se duvidar. que não. não tenho nada. zero. nadica mesmo. a ver com o que o outro assiste, joga, ouve, lê. não tem diferença alguma entre o meu luandino e o harry potter alheio. sigo preferindo luandino. é a minha vida isso daqui e eu gosto mais. você, espero, sabe do que você gosta. e, espero, não me ache mais chata do que achava antes porque eu prefiro o autor angolano pouco conhecido. eu gosto das brincadeiras com palavras e do engajamento político. eu tenho prazer vendo hello dolly. nem todo mundo ama barbra, eu sei. eu amo. a gente pode e deve amar as coisas. e devia não ligar pro que o outro ama.
me ensinaram. ali na marra. que alta cultura e baixa cultura. high e low brow, se vocês preferirem. são conceitos velhos. conceitos de quem acha que pode impor sua cultura aos outros. de quem acha que a cultura letrada e europeia é superior à cultura oral e não ocidental. e daí. tudo que não é ocidental entra nesse viés do ruim. do não valer. do precisar ser discutido e achincalhado. não. eu quero os barbarismos, diria manuel bandeira. todos. eu quero dançar e brincar na rua. eu quero comer com as mãos, fazendo capitão pras crianças perto de mim. quero ler também porque pra mim. e só pra mim. é importante. não precisa ser pra mais ninguém. vamos. a gente pode. entender que cultura é construção e coletivo. e também indivíduo e único. e que cada pedaço. cada cultura. cada jogo. cada livro. cada música. vale. mas não precisa gostar, não. pode só entender. que não é a sua. mas...
então. assim. eu sou uma chata. uma chata que nasceu com 80 anos. uma chata que só ouve música dos anos 60. uma chata que só assiste filme velho (e adora musicais). uma chata que trabalha, vejam só, pesquisando literatura. mas a chata aqui aprendeu. na marra. debaixo de porrete se duvidar. que não. não tenho nada. zero. nadica mesmo. a ver com o que o outro assiste, joga, ouve, lê. não tem diferença alguma entre o meu luandino e o harry potter alheio. sigo preferindo luandino. é a minha vida isso daqui e eu gosto mais. você, espero, sabe do que você gosta. e, espero, não me ache mais chata do que achava antes porque eu prefiro o autor angolano pouco conhecido. eu gosto das brincadeiras com palavras e do engajamento político. eu tenho prazer vendo hello dolly. nem todo mundo ama barbra, eu sei. eu amo. a gente pode e deve amar as coisas. e devia não ligar pro que o outro ama.
me ensinaram. ali na marra. que alta cultura e baixa cultura. high e low brow, se vocês preferirem. são conceitos velhos. conceitos de quem acha que pode impor sua cultura aos outros. de quem acha que a cultura letrada e europeia é superior à cultura oral e não ocidental. e daí. tudo que não é ocidental entra nesse viés do ruim. do não valer. do precisar ser discutido e achincalhado. não. eu quero os barbarismos, diria manuel bandeira. todos. eu quero dançar e brincar na rua. eu quero comer com as mãos, fazendo capitão pras crianças perto de mim. quero ler também porque pra mim. e só pra mim. é importante. não precisa ser pra mais ninguém. vamos. a gente pode. entender que cultura é construção e coletivo. e também indivíduo e único. e que cada pedaço. cada cultura. cada jogo. cada livro. cada música. vale. mas não precisa gostar, não. pode só entender. que não é a sua. mas...
4.8.16
gatilhos
eu procuro gatilhos. esses tais emocionais. eu tenho pavor de viver escondida, segura, certa do que faço. quero gatilhos. quero ser confrontada com minha fragilidade eterna. ser colocada na condição de saltar no escuro. de buscar o afeto. eu amo gatilhos. eles me fazem pensar como cheguei aqui. eles me fazem lembrar que. apesar de tudo. ou por causa de tudo. eu sobrevivi e estou aqui. exatamente como eu queria. ou de forma alguma como eu queria. mas aqui. com meus pedaços feito cacos colados. como aquela restauração com ouro japonesa. ficam as marcas. as marcas são eu também. não tenho nenhuma vontade de esconder as marcas. eu conto as marcas. eu choro com elas. elas tão aqui. como as quelóides. eu tentei tirar as quelóides. voltaram. eu desisti de tirar minhas marcas.
eu não entendo esse lugar quente e seguro que as pessoas buscam. eu não entendo esse lugar sem nenhum incômodo. sem nada que fuja do esperado ou do pretendido. sem que nada fuja do controle. a falta de controle me faz falar demais. aqui e nas outras redes. a falta de controle me faz amar. me faz querer ter afeto pelas coisas. pelas pessoas. pelos estudos. pelos saberes. o controle aprisiona a gente como mais uma coisa. se tudo está e é controlado, onde iremos? em que espaço queremos ficar? a gente se limita, e não ao mundo.
eu não quero ter limites eu não quero que nada fora de mim me impeça de nada. eu preciso saber que. o gatilho. a mudança. é minha. eu vou ouvir. lidar. passar e seguir. porque o mundo pode tentar. mas não precisa conseguir. a gente pode ser mais forte. sempre. como o jasmim manga. que não é bem jasmim nem manga. mas que renasce sempre depois de perder todas as folhas. e segue sendo a árvore mais linda. tem uma no meu jardim.
1.8.16
ídolos
ídolos têm pés de barro. a gente aprende isso cedo. aprende que veio sozinho e sai sozinho desse mundo. tem gente que não aprende, eu sei. mas eu aprendi muito cedo. não sei se por causa da figura paterna... digamos instável (mas adorável, absolutamente adorável e sedutora). eu aprendi que ídolos são lindos. ídolos são brilhantes. ídolos são sedutores. ídolos são menores do que eu. eu quem vou acordar de manhã. eu quem vou fazer meu trabalho. receber meu dinheiro. correr atrás. eu quem vou lidar com minha gripe. quem vou ter de voltar pra casa. sozinha e bêbada. eu aprendi a me virar. a saber que os ídolos têm pés de barro. que os ídolos erram. que os ídolos bebem demais. que os ídolos morrem. eu não vou depender de quem morre. e todo mundo morre. e quem não morre a gente mata por dentro. eu ando sozinha. ídolos erram.
não acredito, assim, em ninguém acima nem abaixo. nesse caminho sozinho, tenho meus iguais ao meu lado. meus iguais riem comigo, comem comigo, dormem comigo. meus iguais podem saber mais ou menos do que eu, podem ser mais ou menos legais do que eu. eu jamais conseguirei colocar alguém no espaço de quem não erra, de quem eu devo seguir. eu não sigo. eu ando junto. porque eu não acredito em ninguém. e ninguém anda sozinho de verdade. a gente anda ao lado de pessoas absolutamente adoráveis, sedutoras e diferentes da gente. com quem a gente resolve e decide andar junto. não porque as pessoas são melhores do que a gente. porque elas saberão fazer algo ou poderão nos ajudar ou nos levar para um espaço onde as ruas são pavimentadas com ouro e pão de mel. a gente decide andar junto porque andar junto nos permite mais. nos deixa mais fortes. a gente decide andar junto porque o amor cria um elo mais forte que isso. porque junto a gente pode fazer outra coisa que não é o que veio antes.
junto a gente aumenta muito o nosso mundo. eu não gosto de ídolos.
não acredito, assim, em ninguém acima nem abaixo. nesse caminho sozinho, tenho meus iguais ao meu lado. meus iguais riem comigo, comem comigo, dormem comigo. meus iguais podem saber mais ou menos do que eu, podem ser mais ou menos legais do que eu. eu jamais conseguirei colocar alguém no espaço de quem não erra, de quem eu devo seguir. eu não sigo. eu ando junto. porque eu não acredito em ninguém. e ninguém anda sozinho de verdade. a gente anda ao lado de pessoas absolutamente adoráveis, sedutoras e diferentes da gente. com quem a gente resolve e decide andar junto. não porque as pessoas são melhores do que a gente. porque elas saberão fazer algo ou poderão nos ajudar ou nos levar para um espaço onde as ruas são pavimentadas com ouro e pão de mel. a gente decide andar junto porque andar junto nos permite mais. nos deixa mais fortes. a gente decide andar junto porque o amor cria um elo mais forte que isso. porque junto a gente pode fazer outra coisa que não é o que veio antes.
junto a gente aumenta muito o nosso mundo. eu não gosto de ídolos.
24.7.16
não sei de nada
eu sigo não sabendo de nada. cresci achando que sabia, veja bem. a cada dia que estudo, sei menos. tô mais cansada. sabendo menos. eu sigo sabendo de nada. sigo buscando algo que não sei. seguirei buscando.
não me leve a mal. eu sei estudar. isso eu sei. sou boa em sentar a bunda e ler horas a fio. escrever sobre o que li. analisar. buscar coisas novas. eu gosto disso. tenho enorme prazer em falar sobre o que eu estudo. me incomodo quando não posso. sou chata. sou ranzinza, na verdade. mas enfim. é o domínio do que eu sei. eu sei falar sobre estudo. eu sei estudar. eu sei discutir e conversar.
o domínio do que eu não sei. e convenhamos, aos 40 anos, jamais saberei, é o das relações pessoais. sou um desastre. hora falo demais, hora falo de menos. hora entendo tudo errado, hora chego perto demais de quem não devia, e vez em quando sumo quando não devia. eu sou um desastre.
e acho que na verdade, todos somos. e seguiremos sendo. porque a vida da gente não veio com manual de instrução. mas de vez em quando tudo parece que dá certo. que se encaixa. e a gente segue esperando esses momentos. indefinidamente.
não me leve a mal. eu sei estudar. isso eu sei. sou boa em sentar a bunda e ler horas a fio. escrever sobre o que li. analisar. buscar coisas novas. eu gosto disso. tenho enorme prazer em falar sobre o que eu estudo. me incomodo quando não posso. sou chata. sou ranzinza, na verdade. mas enfim. é o domínio do que eu sei. eu sei falar sobre estudo. eu sei estudar. eu sei discutir e conversar.
o domínio do que eu não sei. e convenhamos, aos 40 anos, jamais saberei, é o das relações pessoais. sou um desastre. hora falo demais, hora falo de menos. hora entendo tudo errado, hora chego perto demais de quem não devia, e vez em quando sumo quando não devia. eu sou um desastre.
e acho que na verdade, todos somos. e seguiremos sendo. porque a vida da gente não veio com manual de instrução. mas de vez em quando tudo parece que dá certo. que se encaixa. e a gente segue esperando esses momentos. indefinidamente.
15.7.16
janis
o filme da janis. a história dela. como é triste. perceber que o buraco nunca é preenchido. nunca. que se tenta reiteradamente preencher. e ele segue esvaziando. o buraco segue voltando. e cada vez maior. e cada vez maior. a tristeza. o desamor. o buraco. enorme. enorme.
daí tem duas coisas. o buraco e quem permite o buraco. o buraco a gente tem. uns mais, outros menos. é aquilo que diz que você não merece. que você não é amado o suficiente. e nunca é suficiente. que você não é bom. e nunca vai ser. com o buraco. a gente tenta lidar. e vez em quando não dá pra lidar. vez em quando a gente se afoga nele. e faz parte da vida. e a gente sente culpa por se afogar no buraco. mas a gente na verdade não precisa se culpar. só precisa dar um jeito de lidar com o buraco. cada um tem o seu. comida. terapia. remédio. o dela era a droga. a droga e o palco preenchiam o buraco. quem sou eu pra dizer que não? só fico triste dela não perceber que tinha mais do que tinha.
e quem permite. não é só quem tem o buraco. é quem tá em volta e vê o buraco consumindo e não segura a mão. e não avisa que o outro tá se afogando. e não diz pra parar. o documentário fala como se a única pessoa assim fosse a tal namorada que foi a woodstock. mas todo mundo ali (menos o pobre namorado que não conseguiu mais estar perto) foi isso. todo mundo que usou ela. que não percebeu. que achou que era só temporário. nunca é. o buraco é companhia pra vida. ele não vai embora assim. e alguém precisa avisar a gente. que não repara sozinha. que o buraco tá maior que a gente.
daí tem duas coisas. o buraco e quem permite o buraco. o buraco a gente tem. uns mais, outros menos. é aquilo que diz que você não merece. que você não é amado o suficiente. e nunca é suficiente. que você não é bom. e nunca vai ser. com o buraco. a gente tenta lidar. e vez em quando não dá pra lidar. vez em quando a gente se afoga nele. e faz parte da vida. e a gente sente culpa por se afogar no buraco. mas a gente na verdade não precisa se culpar. só precisa dar um jeito de lidar com o buraco. cada um tem o seu. comida. terapia. remédio. o dela era a droga. a droga e o palco preenchiam o buraco. quem sou eu pra dizer que não? só fico triste dela não perceber que tinha mais do que tinha.
e quem permite. não é só quem tem o buraco. é quem tá em volta e vê o buraco consumindo e não segura a mão. e não avisa que o outro tá se afogando. e não diz pra parar. o documentário fala como se a única pessoa assim fosse a tal namorada que foi a woodstock. mas todo mundo ali (menos o pobre namorado que não conseguiu mais estar perto) foi isso. todo mundo que usou ela. que não percebeu. que achou que era só temporário. nunca é. o buraco é companhia pra vida. ele não vai embora assim. e alguém precisa avisar a gente. que não repara sozinha. que o buraco tá maior que a gente.
13.7.16
o primo
precisamos falar sobre o primo. o primo que tá na sala e todo mundo finge que não existe. chama áfrica. ele tá aqui faz muito tempo. ele é parte do que nós somos, para o bem ou para o mal. e muita gente finge que não tá aqui. finge que não precisamos falar disso. afinal, temos negros na sociedade, é um fato. pra que falar sobre isso?
fui apresentar trabalho na argentina e me impressionei com a alvura da população. com a tentativa de ser ocidente. e me choquei com isso e me incomodei com não falarem. sobre a herança. sobre o genocídio deles. sobre o branqueamento.
mas na verdade mais verdadeira, o que tenho percebido cada vez mais é como nós, aqui, brasil, país que tem salvador. que tem enormes contingentes de adeptos de religiões de matriz afro. que tem carnaval. samba e axé. como nós fingimos que não temos nada a ver com a áfrica. não precisamos falar. tá resolvido.
não tá nada resolvido. não tem nenhuma ligação feita. tentamos apagar e branquear uma por uma. tentamos ainda efetivar o genocídio. no fundo no fundo, acho que muitos invejam a argentina, por ter sido bem sucedida no que falhamos. branqueamos a cultura. branqueamos a história. só falhamos em branquear a população. mas seguimos tentando.
não, cara. a áfrica é parte da nossa história. tem que ser. porque é dali que nós viemos. a europa não é e não deve ser o centro do nosso mundo. temos essa sorte. de não sermos ocidentais. precisamos aproveitar isso. precisamos levar adiante o nosso devir negro. precisamos saber o que se passa fora da europa. é urgente. é urgente porque precisamos interromper o genocídio. e isso faz parte dessa interrupção. faz parte olhar pra trás e saber de onde viemos. você já olhou hoje? é importante saber. quem a gente é. eu canso de falar que não sou planta pra ter raiz. mas eu sei de onde eu vim. e isso me ajuda a saber pra onde eu vou.
o brasil veio disso daí. da escravidão. da áfrica. de um sistema cruel e desumano. não só utilizamos, como fomos mercadores de escravos, e fomos escravos. entreposto. o porto do rio, o cais do valongo, foi o maior porto escravagista do mundo. o primo tá na sala. a gente precisa falar dele. sob a pena de jamais podermos saber pra onde vamos.
fui apresentar trabalho na argentina e me impressionei com a alvura da população. com a tentativa de ser ocidente. e me choquei com isso e me incomodei com não falarem. sobre a herança. sobre o genocídio deles. sobre o branqueamento.
mas na verdade mais verdadeira, o que tenho percebido cada vez mais é como nós, aqui, brasil, país que tem salvador. que tem enormes contingentes de adeptos de religiões de matriz afro. que tem carnaval. samba e axé. como nós fingimos que não temos nada a ver com a áfrica. não precisamos falar. tá resolvido.
não tá nada resolvido. não tem nenhuma ligação feita. tentamos apagar e branquear uma por uma. tentamos ainda efetivar o genocídio. no fundo no fundo, acho que muitos invejam a argentina, por ter sido bem sucedida no que falhamos. branqueamos a cultura. branqueamos a história. só falhamos em branquear a população. mas seguimos tentando.
não, cara. a áfrica é parte da nossa história. tem que ser. porque é dali que nós viemos. a europa não é e não deve ser o centro do nosso mundo. temos essa sorte. de não sermos ocidentais. precisamos aproveitar isso. precisamos levar adiante o nosso devir negro. precisamos saber o que se passa fora da europa. é urgente. é urgente porque precisamos interromper o genocídio. e isso faz parte dessa interrupção. faz parte olhar pra trás e saber de onde viemos. você já olhou hoje? é importante saber. quem a gente é. eu canso de falar que não sou planta pra ter raiz. mas eu sei de onde eu vim. e isso me ajuda a saber pra onde eu vou.
o brasil veio disso daí. da escravidão. da áfrica. de um sistema cruel e desumano. não só utilizamos, como fomos mercadores de escravos, e fomos escravos. entreposto. o porto do rio, o cais do valongo, foi o maior porto escravagista do mundo. o primo tá na sala. a gente precisa falar dele. sob a pena de jamais podermos saber pra onde vamos.
11.7.16
você
eu sonhei com um nome para você. como se você fosse algo além de um rapaz que eu já vi na rua e achei interessante. como se eu te conhecesse. você tinha um nome. e a gente conversava. e você seguia interessante. eu gostei do meu sonho e sei que amanhã eu não vou mais sonhar com você. porque só fiz isso porque te vi ontem na praça. mas é gostoso colocar isso. falar isso. eu sonhei com você. e na verdade a gente só conversava e eu sabia o seu nome. o sonho era banal. e eu sei que seguirei sem saber quem você é. porque não temos amigos em comum. porque quando pensei que podia chegar e tentar puxar conversa, sua amiga, uma menina muito bonita, mais nova que eu mais de década, certeza, se interpôs no caminho e deixou claro que o território não era meu. eu passei da idade de querer provar o contrário. eu só sorri e saí de perto. fiquei num espaço para te ver. mas sem entrar no espaço dela. eu não sei o que ela quer. nem o que você quer. você me pareceu flanar ali. flertar com qualquer semovente. eu acho isso interessante. pessoas sedutoras. que não sabem sair desse papel. na verdade eu acho que é interessante só observar isso. é meio engraçado ver o gasto de energia. as caras, os abraços, as mãos, os movimentos de corpo. a sedução é uma arte que eu não domino. mas que admiro muito. aqui, do alto da minha dureza e falta de jogo de cintura, eu acho lindo quem sabe seduzir. aplauso e rio. não precisa gastar seu repertório comigo, não. mas me deixa ficar olhando de longe e me divertindo criando toda essa narrativa inexistente pra sua vida. que é muito divertido criar narrativas.
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