5.8.16

alta cultura

não, sai daí. isso é infantilização. não, sai daí, não ouve essa música, ela é ruim. pera, isso é hiperssexualização. isso é bobo. isso é ruim. isso é infantil. isso é pouco sofisticado. isso não deve, não pode, não quero que exista. não devia existir, é isso.

então. assim. eu sou uma chata. uma chata que nasceu com 80 anos. uma chata que só ouve música dos anos 60. uma chata que só assiste filme velho (e adora musicais). uma chata que trabalha, vejam só, pesquisando literatura. mas a chata aqui aprendeu. na marra. debaixo de porrete se duvidar. que não. não tenho nada. zero. nadica mesmo. a ver com o que o outro assiste, joga, ouve, lê. não tem diferença alguma entre o meu luandino e o harry potter alheio. sigo preferindo luandino. é a minha vida isso daqui e eu gosto mais. você, espero, sabe do que você gosta. e, espero, não me ache mais chata do que achava antes porque eu prefiro o autor angolano pouco conhecido. eu gosto das brincadeiras com palavras e do engajamento político. eu tenho prazer vendo hello dolly. nem todo mundo ama barbra, eu sei. eu amo. a gente pode e deve amar as coisas. e devia não ligar pro que o outro ama.

me ensinaram. ali na marra. que alta cultura e baixa cultura. high e low brow, se vocês preferirem. são conceitos velhos. conceitos de quem acha que pode impor sua cultura aos outros. de quem acha que a cultura letrada e europeia é superior à cultura oral e não ocidental. e daí. tudo que não é ocidental entra nesse viés do ruim. do não valer. do precisar ser discutido e achincalhado. não. eu quero os barbarismos, diria manuel bandeira. todos. eu quero dançar e brincar na rua. eu quero comer com as mãos, fazendo capitão pras crianças perto de mim. quero ler também porque pra mim. e só pra mim. é importante. não precisa ser pra mais ninguém. vamos. a gente pode. entender que cultura é construção e coletivo. e também indivíduo e único. e que cada pedaço. cada cultura. cada jogo. cada livro. cada música. vale. mas não precisa gostar, não. pode só entender. que não é a sua. mas...

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