21.9.12

a primeira vez que amei são paulo, eu amei uma foto. que agora eu não acho na internet. deve ser mentira. era uma desfile de um teatro (teatro do ornitorrinco, se não me engano), e na frente, liderando, ia um homem de saias e meia arrastão. também foi a primeira vez que amei meia arrastão. são paulo era longe ainda. eu devia ter uns 10 anos. qualquer coisa era longe se precisasse de mais de um ônibus.
são paulo virou aquilo. um lugar aonde homem podia usar meia arrastão. aonde as pessoas podiam ser diferentes. explica-se. no libertário rio de janeiro, onde, diz-se, mário de andrade veio para poder viver sua vida, homem não usa saia. só no carnaval. adulta eu descobri que em são paulo também não. mas era arte. e era aquilo. blusa verde. saia rosa de preguinhas. meia arrastão, sandália. depois eu descobri também que o original era mais antigo. que um cara tinha andado assim pelas ruas em 1932.

a segunda vez que amei são paulo, eu amei um museu. eu entrei no masp e fiquei encantada. e lembro de jantar no america, e achar o milkshake o máximo. eu devia ter uns 12 anos... e foram passando os anos e são paulo foi sendo amada em partes. eu ouço tomzé quando penso em são paulo hoje em dia. eu aprendi parte da geografia da cidade com as músicas. um amigo não acreditava que eu sabia andar em alguns bairros. mas eu sei. ou sabia e tô reaprendendo. porque eu tô amando são paulo de novo. as pessoas acham graça. mas eu posso tentar explicar. são paulo é como um amante. aonde você procura o que não tem em casa.

no rio eu tenho muita coisa. é meu marido, minha mulher. é o amor e a cidade onde vou morrer, quase certeza disso. eu saio, mas eu volto, sempre. no rio eu fui adolescente e ia no circo voador deus sabe como. no rio eu conhecia as boîtes e a boêmia na hora em que ficava na moda. ia dar um mergulho em ipanema antes de voltar pra casa. isso tudo nunca vai sair de mim. aprendi a ser uma "carioca de caricatura", como diz um irmão. mas eu preciso de respiro do rio. das modas do rio. da leveza falsa do rio. e, estranho que seja, o peso de são paulo me ajuda a lidar. com a vida. com o rio. pensando bem, amo outras cidades. fui criança em fortaleza. apaixonada em paris e roma (indico). chorei mágoas em lyon. mas volto pras duas. preciso das duas. acho que se complementam, por mais clichê que isso pareça e seja.

e fico nessa rotina, e ouço meu tomzé quando o avião pousa em são paulo, sem a ajuda de fones de ouvido. assim como ouço bossa nova voltando. e nem sou fã de bossa nova. mas o rio, confesso, vez em quando me vem com ares de zé mujica...

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