29.4.14

escuro

aquele cantinho escuro era só dela. era confuso. era escuro. mas era dela. as pessoas não entendiam aquele prazer em voltar pro cantinho escuro. os amigos nem falavam nada, vez em quando. ela ficava no quartinho escuro. ela brigava com quem tentava entrar.

o cantinho podia existir por dias ou semanas. meses não. ela não se dava a esse luxo. tinha a palavra. depressão. mas novamente. ela não se dava a esse luxo. a avó, quando ela era pequena, lembra bem, ficava até 4 semanas sem sair da cama. sendo lavada. sem acender a luz. lembra da primeira vez que viu. depois trocavam os remédios. e só se repetia a cena uns 2 anos depois. depois a avó começou a fazer análise e os remédios estabilizaram mais.

vez em quando queria se largar no sofá. ou fazer algo drástico. que dessem os remédios. os remédios parecia que melhoravam tudo. mas na verdade, não faria nunca. aprendeu desde cedo que não faria como a avó. que quem tá em volta também sofre com aquilo. e ia indo pra frente. porque os outros importam.

tem uns dias em que o mundo está insuportável. e parece que esses outros não existem. e daí. ela para. entra no cantinho. chora o mundo. lembra de todos os outros. e tenta sair do cantinho. porque sempre tem os outros. e eles sempre vão estar ali. aparecendo. estendendo a mão. falando asneira. sofrendo também. e é em frente. é ali, com os outros. que tudo importa.

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