15.4.14

praia

era inverno. e tava frio. tá, não era frio de verdade, vamos lá. era frio pra rio de janeiro. mas estamos no rio de janeiro. ana não tava conseguindo dormir. virava de um lado pro outro na cama sem parar. já tinha contado carneiros. feito meditação. entrado no facebook. visto se mais alguém sofria de insônia com ela. nem tava tão tarde. uma hora. levantou. colocou a primeira roupa que viu e foi pro bar. ali em botafogo mesmo. estavam sempre abertos.

essa neblina não combina com a cidade. esse tempo em que as pernas precisam estar cobertas não combina com a cidade. ela muda. ana achava até que as pessoas falavam mais baixo no bar do que de costume. foi ao bar nessa necessidade de ver gente. meio estúpida. mas aquela noite, ficar sozinha tava deixando ela irritada.

sentou na primeira mesa que não ficava na chuva. acendeu um cigarro. pediu uma cerveja ao garçom, que nem perguntava mais se ela teria companhia. tinha dias que não, e ele já sabia. em geral com um livro ou pendurada no celular. hoje nem isso. só o cigarro. claro que tinha celular e livro na bolsa. mas hoje não.

ficou ali fumando o cigarro e pensando na vida. bebeu a cerveja. pagou as contas e saiu dali. não quis ir pra casa. a cidade muda na chuva, pensava. e ela tava afetada por isso. certamente. era isso. resolveu andar. riu um pouco pensando que sua mãe teria síncopes se soubesse que ela estava andando a essa hora sozinha.

foi andando pela voluntários mesmo. como se não tivesse chovendo. mas estava. muito. a calça jeans grudou no corpo de tão molhada. a camiseta também. roupa velha, já puída. queria ver o mar de repente. entrou num ônibus. atravessou o túnel velho. saltou ali do lado da serzedelo correa, e foi andando até a praia. vazia. chovendo. é. de repente não era a melhor ideia do mundo. olhou aquilo ali. as ondas estavam altas. o mar estava de ressaca. parecia que queria chegar ali no calçadão. vinha com força. com raiva. clichê dizer isso, mas era um espetáculo meio assustador.

de forma estranha aquela água toda acabou com a angústia. ou foi o cansaço de andar. quem sabe? voltou. pegou o ônibus de volta. chegou em casa, tirou aquela roupa molhada e grudada. fumou um último cigarro só de calcinha, olhando pela janela. pensando na vida. nos últimos caras com quem tinha saído. nas amigas que ela nem tinha pensado em chamar. na família. riu meio cansada.

entrou no chuveiro quente. deixou mais água escorrer por suas costas. se secou. deitou na cama....

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