28.5.14

Frio

aquele frio era desagradável, úmido. as roupas nunca secavam. chuvinha que não parava fazia dias. só queria dormir e ficar em casa. nunca mais ter de sair. assim. dormindo, feliz. mas enfim. a vida não era assim, e Alice tinha de sair pra resolver uns pepinos. não era trabalhar, porque era sábado. mas tinha de ver coisas da casa, fazer feira, limpar a casa... inferno essa coisa de ser adulta.

feira na chuva. uma espécie de tristeza em si. mas depois ia valer a pena a comida fresca em casa (era o mantra). passou no mercado, comprou carne também. almoçou pastel, pq né? até amadurecer tem seus limites. chegou em casa e lembrou. que na véspera tinha dado uma de ermitã e lido e ficado entre internet e livros até de madrugada. com cachaça. a casa nem tava o caos. era pouco pra fazer, grazadeus. lavou roupa. limpou banheiro. arrumou cozinha....

celular apitou. eram as amigas perguntando cadê a sumida. sabiam que andava enlouquecida com trabalho e estudo, essas coisa, mas... concordou. a casa estava habitável, decidiu ir ver rua. novidade nem tinha pra contar, mas né?

entrou no banho. percebeu que não tinha feito a unha naquela semana. gente. como assim? tava surtando, só pode. deixa pra lá agora. abriu armário. quanta cor. aquilo sempre a acalmava. ver as cores. escolheu um vestido. uma meia calça (tá frio, poxa), um sapato. se maquiou e foi. as amigas estava esperando no bar de sempre (que sempre mudava, mas isso é outra história).

estranharam as unhas. perguntaram que passava. ela só quis saber de pedir um hambúrguer. tava com fome. não, não tinha nenhum cara. vez em quando achava que as amigas, hoje casadas, queriam saber dela e de joana, que não tinha ido, só pra viver vicariamente. não era um interesse por ela, mas pra poder ainda sentirem as borboletas. ela entendia. tinha sido casada por muito tempo. tinha ficado em casa. tinha sido monogâmica. enfim. não, agora tava vazia de tudo.

mas não tem saído pra dançar? e sua vida de adolescente? alice riu. de adolescente a vida tem nada. adolescente não tem amanhã. ou só tem amanhã. alice tinha o passado ali todo nas costas. o presente todo pra cuidar. roupas pra lavar. contas pra pagar. enfim. nada adolescente. vez em quando tinha e podia não acordar cedo. hoje nem tinha sido o caso.

a cerveja e o hambúrguer chegaram. a conversa continuou e alice fez um pedido: pra estenderem a noite. pra falarem com os maridos e mães e o que seja. pra poderem um dia saírem todas de adolescentes. como quando tinham 20 anos. sem futuro. sem passado. sem contas. sem nada. elas iam ver. que vez em quando é libertador. fingir que a gente é livre. achar que a gente é livre. porque essa de ser adulto e se perceber preso a tanta coisa. essa é triste pra cacete.


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