6.8.03

Catavento e girassol
Guinga / Aldir Blanc

Meu catavento tem dentro
o que há do lado de fora
do teu girassol.
Entre o escancaro e o contido,
eu te pedi sustenido
e você riu bemol.
Você só pensa no espaço,
eu exigi duração...
Eu sou um gato de subúrbio
você é litorânea.
Quando eu respeito os sinais,
vejo você de patins
vindo na contramão
mas quando ataco de macho
você se faz de capacho
e não quer confusão.
Nenhum dos dois se entrega.
Nós não ouvimos conselho:
eu sou você que se vai
no sumidouro do espelho.
Eu sou do Engenho de Dentro
e você vive no vento do Arpoador.
Eu tenho um jeito arredio
e você é expansiva
- o inseto e a flor.
Um torce pra Mia Farrow,
o outro é Woody Allen...
Quando assovio uma seresta
você dança havaiana.
Eu vou de tênis e jeans,
encontro você demais
- scarpin, soirée.
Quando o pau quebra na esquina,
você ataca de fina
e me ofende em inglês
é fuck you, bate-bronha...
e ninguém mete o bedelho,
você sou eu que me vou
no sumidouro do espelho.
A paz é feita no motel
de alma lavada e passada
pra descobrir logo depois
que não serviu pra nada.
Nos dias de Carnaval
aumentam os desenganos:
você vai pra Parati
e eu pro Cacique de Ramos.
Meu catavento tem dentro
o vento escancarado do Arpoador.
Teu girassol tem o escondido
do Engenho de Dentro da flor.
Eu sinto muita saudade,
você é contemporânea,
eu penso em tudo quanto faço,
você é tão espontânea.
Sei que um depende do outro,
só pra ser diferente,
pra se completar
Sei que um se afasta do outro,
no sufoco, somente pra se aproximar.
Cê tem um jeito verde de ser
e eu sou meio vermelho
mas os dois juntos se vão
no sumidouro no espelho

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