10.11.14

de fora

Mariana conhecera Celso por acaso. Era amigo de amigos de amigos em uma festa. Cismou com ela. Veio falar. Ela achou graça daquele cara meio feio, meio desajeitado, totalmente hippie de classe média do Rio de Janeiro cismar com ela. Mas ok, deu papo. Ela ainda não tinha se acostumado com esse tipo da zona sul do Rio. Vinda de Minas, ainda era estranho pra ela. Não era bem um tilelê. Enfim.

Celso a fez rir aquele dia. E ela foi levando e continuou a sair com ele. Porque rir era algo muito bom. E aprendeu com ele a ir nas cachoeiras e a fumar maconha. Burra velha, nunca tinha fumado. Era uma boa menina, tinha estudado e trabalhado desde cedo. Não tinha tido tempo de relaxar. E Celso deixava ela relaxar. Era bom ficar ali naquele apartamento no Horto. Meio caindo aos pedaços o prédio. Mas uma delícia o apartamento. Fresco. Com vista pro verde. Perto dos bares. Enfim.

O que sucede é que de repente em menos de um ano Mariana se mudou. E agora aquele apartamento era dela também. A vista. O Horto. Tudo dela também. Fizeram união estável. Mas os planos eram de casar com festão um dia. De preferência num sítio. Sem sapatos (olha o que não fazemos por amor) nem maquiagens.

Enfim, era verão. primeiro fim de semana de horário de verão. E Mariana tinha combinado com amigas de ir ao bar. Já estava bem irritada de ter se inscrito nesse seminário sem ver a data. E agora não podia faltar. Ia de manhã com um casal de amigas. Que coincidentemente eram amigas da Joana, amiga de Celso. Depois Júlia e Carol iriam direto pro bar encontrar Beta e Mariana passava em casa pra resgatar Celso. Parecia um plano.

Acordou cedo resmungando. Tentou não acordar Celso. Sem sucesso. Ele, sempre bem humorado, falou que achara ótimo, ia tomar café fora e subir pra cachoeira logo cedo. Ela lembrou ali porque, apesar da zona, apesar da lentidão na vida, tinha casado com ele. Era porque ele tinha esse bom humor. Porque ele tinha esse sorriso mesmo quando irritado. E isso melhorou o humor dela pra ir pro seminário. E foi. O dia inteiro ouvindo sobre novos rumos do urbanismo. Pra onde vão as grandes cidades. O que as megacidades podem fazer para seus habitantes. Etc, etc, etc. Ela só olhava o sol lá fora.

Saiu, as meninas foram correndo pro bar, parece que Beta já tinha saído, e tudo era mau humor pra ela. Melhor assim. Chegou em casa e aquele futum de maconha não enganava ninguém. Na verdade, nem o porteiro. E eles moravam no terceiro andar. Sem elevador. Celso estava com um amigo. Bruno. Simpático o rapaz. Mas pera. Era o nome do ex da Joana, não? Era, claro que era. Bruno no banheiro e Mariana tensa pensando se daria algum problema. Celso tinha certeza de que não. A história dos dois era complicada, mas os dois eram bem educados e afetuosos com os amigos o suficiente para serem adultos.

Mas não, não ia avisar nada antes. Chegaram, entre os primeiros ainda. Celso, cansado, com lombeira, ficava deitado no colo dela. e ela não conseguia nem se irritar. Aquele cara sempre fazia ela rir. E quando Joana chegou. E todo o auê se fez. Mariana entendeu. Que era aquilo mesmo. Que ainda se olhavam como não deviam, que bruno ainda percebia cada vez que a alça da camiseta de Joana caía do ombro. Que Joana sabia cada vez que Bruno acabava o copo de cerveja. Que eram parecidos demais para capitularem e serem felizes juntos.

E olhou pra seu colo. E ficou feliz. Da possibilidade de poder ter capitulado. De achar que o problema não era dela se ele tinha resolvido mudar o programa dele. E como era bom. Só estar junto.

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