9.11.14

biquíni

definitivamente o verão tinha chegado. praia até tarde. andar de biquíni nas ruas. só o short e a camiseta regata rasgada por cima. com aquela cara de quem se sente ainda com 15 anos. enfim.

Joana não tinha mais 15 anos. Fazia um tempo, na verdade. Mais ou menos uns 15 anos, na verdade. Mais até. E Joana, apesar de adorar esse elan do verão andava com vontade era de ficar em casa no ar condicionado. Mil convites. Praia. Show. Circo. Teatro. Cinema. Bar. No verão do Rio o pecado é não sair. É não ser sociável. 3 meses em que a ordem é a rua. 3 meses em que é muito difícil se concentrar no trabalho. Até porque o calor é insuportável e só se quer uma praia, uma cachoeira ou um ar condicionado.

Praia. Voltemos. Joana tinha ido encontrar com Márcia, que morava ali perto. Só um fim de tarde. Só pra tirar o mofo. Enfim, tinha quinhentas coisas pra fazer. Não podia demorar. Só dez minutinhos.

Nunca são. E ela sabia, na verdade. Os dez viraram vinte. Uma cerveja então. Duas. O sol se pôs. Outras amigas ligaram. Márcia fez charme, disse que não queria. Mas acabaram as duas tomando uma ducha na casa de Márcia e indo encontrar o resto do povo no bar.

Uma mesa grande. Na calçada. Joana chegou resmungando que podiam ter escolhido um bar com ar. Que custava, gente. De repente gelou. Alguma boa alma podia ter informado a ela que o Bruno estaria por ali. Ok, ela não o via fazia quase um ano. Ok, tinha acabado tudo entre eles de forma quase normal. Ok pra tudo. Mas porra. A galera sabia. Que ela ainda não sabia lidar. Ela nunca tinha voltado a ter ele no facebook. Não por esquecimento. Vez ou outra ela entrava no perfil dele. Pra sentir aquela dorzinha. Aquele aperto. Ela sabia. Ou imaginava, tinha imaginação fértil. Que ele fazia o mesmo.

Enfim, foda-se. Agora não tinha o que fazer. Sentou. Pediu um copo. Falou do trabalho. Bruno de repente se assustou e mandou: "mas cacete, Joana, mudou de novo? não sabe parar quieta, não?" Era retórica a pergunta. Joana repetiu a mesma resposta de sempre "pedra parada cria limo, Bruno".

Daí. O frio na barriga saiu. E ela lembrou. Que Bruno era pedra parada. Que era esse o problema. E esse era um problema incontornável, não? Limo escorrega.

 Joana era irrequieta. E irritante. Vez em quando era o próprio verão na sua inconstância (como explicou uma vez a um amigo gringo: o verão no rio chove. a não ser quando faz muito sol). Não deveria nem estar ali. Tinha trabalho pra fazer. Mas quis ver o mundo de fora. Porque precisava daquilo. Porque queria aquilo hoje. E não, não podia ser amanhã. Bruno, ela lembrava bem, saía porque era obrigação. Como mais uma das tarefas daquela vida de tarefas intermináveis. E ela achava tarefas coisas insuportáveis.

Lamentava tanto desencontro, como outras vezes lamentou. Porque aqueles olhos azuis.... Ai aqueles olhos azuis....

Nenhum comentário: