15.10.12

ali ficava um bar. era meio mexicano. isso daqui tudo era o baixo gay. mas foi fechado. teve um problema de violência, de homofobia, foi perdendo os clientes, fechou. eu costumava vir no café pacífico quando era mais nova. era um ambiente mais misturado, o primeiro mexicano do rio e tal. depois tiveram outros aqui perto. era um quarteirão animado. é triste. pensar que era tão vivo faz uns 20 anos (ok, eu tô ficando velha. fecharam os bares faz uns 15 anos). mas é isso, botafogo era um bairro mais legal. agora tá voltando. ali na frente tem o meza, do lado tem outros bares. o baixo ali do aurora nunca fechou, decaiu, mas não fechou. era mais animado ir no plebeu quando eu era adolescente. mas talvez porque eu não tivesse tantos problemas com higiene. achasse normal as baratas, sei lá. hoje em dia boteco tá na moda, né? tem tantos mudernos por aí. cada um arranja sua especialidade, me impressiona a criatividade. mas pera, era pra ser uma memória afetiva da minha cidade.

e tô me perdendo. outro dia, conversando com o marido de uma amiga, descobri que tivemos infâncias parecidas. éramos levados pros bares pra conversar se nossos pais não arranjassem avós pra ajudar. é engraçado. a gente conhece uns lugares que fecharam quando a gente era criança. lembro de beber guaraná. ao menos parecia cerveja. porque tinha isso. bando de ator, de intelectual, uma meia dúzia de perseguidos pela ditadura e tal. mas a menina não podia jamais tomar álcool. eram bons pais. caretas. normal, né? enfim, meu pedaço nunca foi a zona sul mais vista nas fotos. aquilo lá era passeio de fim de semana. ida ao dentista, que ficava em ipanema. ali perto do quartier lacan (dizem, tem tanto lacaniano ali naqueles prédios que dá pra analisar a cidade inteira). meu pedaço, tão querido, era esse pedaço da zona sul meio que sem praia. tem o aterro do lado, né? mas cair na praia do flamengo...

eu cresci nisso. você se habitua. os mesmos cinemas. os mesmos bares, depois de certa idade. pelo menos eu fui mudando de bares com a idade. se eu dependesse de comer no mamma rosa hoje em dia... mas ficava na frente da cal. a galera fazia cal. eu mesma devo ter feito alguma coisa ali. pelo menos frequentei o suficiente pra conhecer a escadinha do lado do funicular, que nunca funcionava. e enfim, chopp no mamma rosa. eu era café com leite. cara de bebê, não era sempre que me serviam chopp. vez em quando ficava na coca-cola mesmo. ganhei fama de sóbria. fama que matei virando uma garrafa de vodka. não recomendo. mas enfim, passou a fama, né?

aqui na esquina, onde hoje tem um restaurante ruim, o varanda's, era outro restaurante ruim. parece ser a única constante do lugar. nunca ter comida boa. mas era uma parmê. igual a da tijuca ou a do largo do machado. dava pra ir. ou sei lá, eu tinha 15 anos. andava por aqui pela rua das laranjeiras por hábito. e porque normalmente eu pegava qualquer carona pra descer de santa teresa. nem sempre iam pro mesmo lado que eu. eu descia aqui e ia a pé pro flamengo, vez em quando. ali no largo do machado, na galeria condor, tinha um cinema. duas salas. grandão. fui ver de volta pro futuro 2 ali. minha amiga me matou de vergonha. berrou "gostoso" pro michael j. fox. depois eu que gosto de baixinho. o s. luiz ainda existe. reformado, mudado, virou multiplex. mas existe. seguindo pela marques de abrantes, a gente passa pelo lamas. que hoje em dia não tem aquela fumaça de cigarro saindo. mas tem umas mesinhas pra gente fumar do lado de fora. e ainda tem aquele corredor que parece filme de terror de tão baixo que é o teto. e ainda tem um ótimo oswaldo aranha. seguindo ali, a gente passa pela escola dos meus irmãos. o caminho era esse sempre. se a gente for até na praia, tem ainda o castelinho, que só fui conhecer adulta.

na outra grande rua do bairro, a senador vergueiro, eu ia na majórica com meus tios. churrascaria à moda antiga, sem rodízios. e mais adianta, já sozinha, tem o picote. o picote era o lugar aonde sem querer eu encontrava conhecidos e sem querer tomava um chopp em cima dos barris. buteco de antigamente. deram uma arrumada. mas acho que os barris continuam lá. indo pra praia, a gente ia no la mole quando eu era criança. ainda tá ali, no edifício argentina. um enorme la mole. com filar enormes. acho q era o único restaurante "de levar criança" da cidade. algo tem de explicar aquelas filas. seguindo na praia, tinha a sears. virou shopping. era sears. tinha uma escada rolante velhona, e um setor de camping. adorava aquele prédio.

andando pela praia de botafogo ainda, a gente chega na voluntários, chega no cinema. era um só, o estação. com os garotos mais velhos, darks, sempre na porta. e a gente entrava meio de penetra, e ficava com eles ali, assistindo de um tudo. e continuando pela praia, quase chegando na urca, tinha o cine veneza. era enorme o cine veneza. fechou. assalto a carro nas redondezas. abriu como igreja. fechou. hoje em dia é uma casa de espetáculos que vive de aluguel.

o baixo botafogo, ali perto do humaitá, é sempre parecido. voltando ao começo do texto, o baixo gay nunca voltou a ser ali. foi pra farme e lá ficou. ali hoje em dia tem uns bares modernos. mas ainda tem o botequim, o plebeu... todos ali com seus pés-sujos e seus adolescentes bebendo cerveja de garrafa. dá uma sensação de conforto, acho. eu gosto disso. de me sentir em casa. quase tanto quanto gosto de me sentir fora de casa. mas esse é outro texto.

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