10.5.17

mudada

faz tempo que não escrevo aqui. as pessoas falam que voltarei mudada para casa. eu concordo sempre. eu não sei o que isso quer dizer. voltar mudada. a gente muda quando dá mais um passo, não? a gente muda o tempo todo. eu mudei já umas 3x hoje, acho. aquela frase velha do não podemos mergulhar 2x no mesmo rio. eu tendo a discordar, ainda cito langston hughes e luandino. em algum momento mergulhei na diáspora. tanto que precisei ver de onde ela começou. e daí estou aqui olhando para isso. e não consigo. nada. estou como folha em branco, muda e sem conseguir organizar um pensamento. e logorreica, preencho espaços vazios. aqui, no facebook, no word, no evernote, num caderno. as palavras precisam sair para eu tentar uma produção de sentido com tudo que li a vida inteira e o que estou vendo. a produção de sentido ao se ler hugo e chegar em paris é imediata. ou eça e lisboa. até machado e rio de janeiro. a cidade é uma força em si de sentido da literatura. eu entendi achebe ao reler aqui. as palavras ganharam mais força. se isso é possível. a destruição ficou mais patente. mas não consegui produzir sentido nenhum. só compreender. quero uma mão que me guie e diga "aqui, segue esse caminho" mas eu sei que nesse caminho só tem espaço para mim. como de resto o caminho que me fez chegar até aqui. pegando sonhos dos outros com as mãos e trançando os meus. e agora eu me vejo olhando pronde cheguei. pronde quero ir. e a vontade única é de pedir ajuda. como tantas vezes, na verdade. a vontade única é de ter alguém pra ir junto. eu tenho tido vontade de casar. de ter filhos. coisas que nunca tinha pensado de verdade. nem quando casei. eu casei porque gostava dele. e achava que devia. agora eu acho que de repente. eu queria não ter um caminho tão sozinho nessa vida quanto o que eu trilhei. eu sei, eu sei. os amigos estão todos aqui. mas a coisa bonita da amizade é esse perto-longe. essa similitude sem andar pelo caminho. essa compreensão. hoje, como de resto nessa viagem, hoje, que eu parei de chorar por nada e por saudades. hoje eu entendo. que só o que eu queria era não estar sozinha. mas eu estou. e isso é bom. porque é o que eu sei ser. é o que eu busquei e trilhei. mas talvez. não sei. acho que não é mais o que eu quero. aqui eu tô aprendendo a me olhar.

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