19.3.17

imperativo

os imperativos das redes sociais, pensou alessandra. faça, pense, coma, leia. a linguagem da publicidade contaminou o mundo. tudo é uma ordem. andou com o dedão pra cima e pra baixo e desistiu. fechou o celular e pegou uma roupa. riu, pensando que era outro imperativo "saia do facebook e vá viver" nem querendo escapava disso. saia. corra. ande. beije. use. beba. não beba. ela só queria ver os amigos e tava se sentindo obedecendo alguém. obedecer nunca tinha sido algo de que gostasse. saia.

saiu. de saia. tinha um post falando sobre não usar saias. alguma explicação qualquer que escapava agora. usou. tinha um contra bebida alcóolica. pediu uma cerveja. um contra sair sozinha. ela tava sozinha. não. mentira, tava esperando uns amigos. mas tinha um post, certamente, ensinando a não esperar. e outro a esperar. ela ficou com raiva. e tinha um post mandando não sentir raiva. algo sobre o corpo não físico. se beliscou. para ter certeza do que sabia. que corpos são físicos, são presença e ela mesmo estava ali. 

o amigo chegou. ela riu. tinha um post que descrevia como mulheres não devem sorrir. ela começou a conversa e daí ficou na dúvida. tinha um post mandando não dormir com caras, e um mandando dormir. a qual desobedecer? considerando que o amigo é legal e bonito e tava tentando alguma chance faz um tempo. escolheu desobedecer o primeiro. pera. isso significa que obedeceu o post lá de cima e pensou? agora ela não curtiu.

mas riu da própria bobagem e ficaram ali sentados na praça mauá, olhando o mar. os outros amigos não foram. ela começou a desconfiar que joão tinha inventado que iam. mas se achou meio paranóica. e pensou que post tava obedecendo ou desobedecendo naquele momento. achou que era aqueles imperativos de "seja feliz". segue a conversa. segue a noite. segue o dia. segue o joão. ela não via joão fazia uns anos. ainda estava querendo entender de onde ele tinha surgido. curiosidade mata a gente.

curiosidade faz a gente viver. curiosidade faz a gente mudar. alessandra andava precisando de uma mudança mesmo. era bom largar os imperativos de lado um pouco

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