15.3.14

noite

tarde. muito tarde. pra variar tinha ido encontrar uns amigos ali na lapa. bar, dançar, o de sempre. pra variar tinha resolvido ir embora do nada. os amigos nem tentavam demover mais a ideia da cabeça de ana. simplesmente deixavam ela ir. sabia se virar, pegar um taxi, ônibus, foda-se. mas não iam ficar aflitos com maluquice alheia. ana simplesmente precisava voltar pra casa. era como se tivesse alcançado um limite de ver gente. isso. esgotou.

a outra coisa é que gostava daquele andar anônimo. sem conhecer ninguém. foi andando pelas ruas, vendo os amontoados de pessoas ao redor dos bares. pensando quando já tinha ido naqueles mesmos bares. pensando que estava sozinha. e que gostava de estar sozinha. gostava de não precisar conversar, nem ser inteligente, nem ser adorável, ou educada. podia andar ali só olhando e ouvindo conversa alheia. pensou se passava no bar de sempre pra ver se outros amigos estavam ali. melhor não.

foi pro ponto de ônibus. esperando. pensando se pegava ônibus ou táxi. morava perto, não sairia muito caro. enfim. os dias andavam meio complicados. eliana andava irritada com ela, e com razão. não desencarnava do ex, não saía com mais ninguém, ficava azucrinando os ouvidos alheios com seu mau humor. e sua misantropia. estava alcançando níveis alarmantes.

os amigos podiam entender, né? que as coisas levam tempo. ela entendia o amor deles. o chamado deles. mas ana ainda precisava de tempo. pra sarar, sei lá. pra voltar a estar nos seus pés. e não saindo dos pés de outro. sei lá.

começou a andar de novo. não quis esperar ali. decidiu tomar uma cerveja sozinha nas barracas antes de ir pra casa. as pessoas olhavam como se ela fosse maluca. chegaram a perguntar se estava esperando alguém. não, obrigada. só queria uma cerveja. sozinha. era pedir demais?

de repente apareceu carlos. não, ela não conhecia carlos. não, ele não era amigo de ninguém conhecido. não, não era prudente conversar com um desconhecido no meio das barracas da lapa as 3h30 da manhã. mas ele foi gentil. se ofereceu pra comprar outra cerveja. conversou, contou da sua vida. ana foi deixando as barreiras de lado. saíram da lapa juntos. foram pra urca ver o sol nascer. conversar na praia. engraçado. como se fossem amigos de séculos.

de repente ana se deu conta. de que finalmente podia parar com a misantropia. de que eliane nem ia mais reclamar. de que o passado estava, vejam só, no passado. porque ela não era mais aquele museu ambulante. e carlos podia acabar aqui e nunca mais ser visto. mas nossa. que pá de cal bonita que ele era.

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