31.8.07

preguiça. dias cinzas produzem preguiça. dizem que é questão de ser carioca. o carioca derrete na chuva, é feito de açúcar, logo, dias cinzas dão aquela vontade de nem sair de casa. pra não arriscar, sabe?
o cobertor parece maior e mais aconchegante. as roupas ficam assim mais macias. o sofá parece assim uma praia do caribe de tão atraente. e o dia fica simplesmente cheio. de nada para fazer. preguiça. muita...
sei que lá fora tenho muito pra fazer. mesmo aqui dentro tenho muito por fazer. mas adio. adio com a certeza de que todo dia assim com tanta preguiça merece ser vivido direito. merece ser enrolado no cobertor até não mais poder. merece ser comemorado. com um leite quente. com um sanduíche. com sopinha. que assim nem mastigar é preciso. porque a preguiça assim sempre tem hora pra acabar...

21.8.07

dias melancólicos, trazidos pela chuva. queria descansar o tempo todo da chuva. mas nem posso. trabalhar. preciso de mais trabalho. preciso de mais concentração. mas anda tão difícil...
mas você gosta de chamar atenção...

gosto não...
na verdade, eu me acostumei a chamar atenção. e pra explicar isso? eu sempre fui mais branca que os outros, mais loura que os outros, mais alta que os outros. tá, parei de crescer cedo. mas branca e loura eu continuo. e chamar atenção é vício. soa errado quando não olham pra gente depois de um tempo. eu gosto de cores fortes. odeio usar tons pastéis. e o resto foi surgindo. e acaba que realmente eu chamo atenção. mas gostar? ah, se eu gostasse mesmo eu andava com melancia pendurada no pescoço... eu só não me incomodo. pra quem já teve cabeça raspada com franja rosa (tosca, pintada com anilina de bolo), o que uma blusa mais colorida chama de atenção não é nada. mal vira umas duas cabeças. e eu gosto de laços de fita. de sapatos de salto. de roxo. de dourado. me agrada o extravagante. que nem passarinho, corro atrás do que brilha. unhas coloridas. saias de cetim. veja bem, que acho tudo mais divertido assim. porque na verdade caiu uma ficha em mim muito cedo. olhar, sempre vão olhar pra gente. melhor chamar atenção pelo inusitado que pelo feio. pelo extravagante que pelo simples cafona. pelo diferente que pelo igual. sei lá. quero mesmo é minhas cores abarrotando o armário. minha roupa me fazendo de alegre. um dia aprendo a me vestir de adulta. de mulher séria que trabalha. eu tento. mas sempre acho que soa errado...

ele? usa calça jeans e camiseta cinza. quase sempre. acho um charme. tão diferente...

20.8.07

ando consumista. e com vontade de comprar de um tudo, de revistas a roupas, bicicletas... se duvidar, compro um carro e finjo que tenho dinheiro pra isso.
ímpetos. vontades. engraçado é que a gente sabe que essas vontades não tem absolutamente nada a ver com a nossa vontade... que assim, desejo mesmo, era de viajar. de estar em paz, de ter um trabalho mais interessante, de poder chegar em casa do dia cansada e abraçar ele. e saber que tá tudo bem e ficar em paz. e não precisar de mais nada. e os dias não são assim, claro. são mais complicados. mas, engraçado, não menos felizes...

16.8.07

esquecer quem eu sou.
pra poder escrever, preciso me esquecer.
difícil tarefa pra alguém tão auto centrado. muito difícil. mas eu estou tentando.
tentando me perder em palavras. em livros. em letras, qualquer coisa.
porque existir dói muito. e a dor não fica bonita em palavras quando é assim tão verdadeira.
ela fica suja. o texto fica sujo. fica dolorido pra quem escreve, não pra quem lê.
tergiversar sobre isso é tentar me livrar dessa dor. pra tentar escrever sobre ela, não com ela. e escrevendo sobre ou a partir dela, ela não participa. ela se distancia de mim. e se encontra depois quando a gente lê. eu imagino assim o texto.
um parto. mas a dor é de quem lê. a minha fica em outro lugar...

15.8.07

escrevo por soluços. ando precisando rir mais. ser menos espamódica na vida. escrever por constância. escrever por necessidade todos os dias de trabalhar as palavras. e parar de ter soluços de necessidade e soluços de impossibilidade. desatar as mãos.
são paulo continua a mesma. o que quer dizer que mudou tanto desde que fui lá em janeiro (ou será fevereiro?). eu gosto daquela cidade. gosto das ruas estreitas que não formam quarteirões perfeitos. e mudam de nome. acho pitoresco mudarem de nome. e delicioso me perder no meio delas. confesso que fico que nem criança seguindo quem quer que finja ao menos saber onde está. gosto de existirem lugares, muitos para se comer sanduiche (tenho 7 anos, nunca repararam? dieta básica é pizza e sanduíche), mesmo sem ninguém ainda ter me perguntado se quero meu hamburguer bem ou mal passado. gosto de andar a esmo na liberdade, de todas as piadas amarelas a respeito disso. e comer na liberdade. na rua, nos pés sujos chineses, nos japas de uma só portinha. gosto de saber que existe uma rua só com vestidos de noiva. mesmo que eu saiba também que, na possibilidade de um dia casar, o vestido não seria de noiva (certezas de infância isso). gosto de saber que posso comer um bauru, uma pizza, um árabe. do serviço de são paulo. bom, fora as comidas, gosto de andar no ibirapuera e saber que existe o mam. de ir na pinacoteca e ser cada vez surpreendida por outra e mais outra exposição. de ver o masp. de ver o itaú cultural. de entrar na galeria ourofino. de.... ai... são paulo não pode parar, nem eu em são paulo. saio com as pernas doídas. um cansaço brutal. precisando de férias das férias. feliz. pensando em voltar. pensando que posso viajar. que preciso estar só. e que são paulo não deixa de ser isso, não? estarmos assim meio sós naquela multidão...
eu sumo e apareço. e sumindo e aparecendo vou tentando cerzir a vida, que já nasce assim, cheia de buracos, não? vez em quando me sinto assim mesmo, uma agulha que entra e sai de dentro do tecido. ando tentando furar o pano e sair do lado de lá. teoricamente todos queremos o lado de lá. onde tem luz. onde tem outras agulhas. eu confesso ter certo prazer no escuro, na solidão. talvez seja medo da luz. agorafobia.