10.6.05

pra frente é que se anda. e assim a gente vai andando. sem saber exatamente o que fazer. mas pra frente é que se anda. ela suspirou e seguiu andando, fazer o quê? o tal do andar vez em quando era meio maçante, era meio difícil. mas ela aprendeu que o objetivo era não desistir. andar mesmo sem saber pra onde estava andando. teresa não tinha muitas certezas. não sabia pra onde queria ir. mas ia. fazer como, se as contas continuavam chegando, se avida continuava sempre? se as perdas eram suas? a identidade dela, diziam, não podia perder. mas se ela nunca encontrou, como ela poderia perder? a saída devia ser essa mesmo. continuar a andar.

teresa fechou a porta. pensou bem se era isso mesmo. mas saiu de casa pro trabalho. cumprimentou o porteiro e seguiu andando. engraçado como a gente faz coisas e nem percebe depois. entrou no metrô. uma, duas estaações. saiu, entrou no prédio do trabalho. sentou à mesa. olhou em volta. nem era tão ruim na verdade. mas tudo parecia tão assim complicado agora. fases. fases de perdas. mas não deveria ser tão pesado. ela nunca tinha acreditado nisso assim. antes que percebesse, pensando assim nas suas tragédias pessoais, entretida consigo mesmo quase que nem criança, era hora de sair pra reunião. detestava reuniões.

aquela era uma dessas reuniões especiais. nada pra se discutir de verdade. o pensamento voa nessas horas. Impressionante. por não ter nada de novo pra falar, teresa ficou calada olhando aquela discussão enorme sobre o sexo dos anjos, mal esperava pela hora do almoço. queria comprar um sapato. isso. um sapato ia melhorar seu humor, certamente. entre pensar o tamanho do salto e a cor da sapato, a reunião acabou. quase indolor.

foi almoçar com as amigas, no caminho pararam para achar o seu sapato. chata, sabia exatamente o que queria. uma sandália vermelha. o salto, o mais alto possível. sandálias vermelhas eram um vício. meio que necessidade de afirmação, sei lá (devia ser o que elas carregam de fetiche). as amigas riam e futucavam as estantes, olhando os outros sapatos. e saíram dali sem ter comido quase nada. mas com sapatos lindos, de volta para o trabalho. as tragédias, naquela correria do dia a dia, iam sumindo. estranho isso, algo que parecia tão grave de manhã agora era tão assim desimportante (amigas e futilidades têm essa capacidade, nos tiram de nós mesmos)...

saindo do trabalho, desistiu da ginástica. hoje não estava com vontade. ia comprar besteira no supermercado e se enfiar debaixo das cobertas. precisava pensar, e pensar e academia eram imiscíveis. comprou sorvete, biscoitos, pizza congelada. só queria bobagens hoje. nada de comida. pegou um filme no vídeo também, apesar de não ter certeza de assistir... depois, a mesma rotina. falar com porteiro, entrar em casa. ainda não estava acostumada com aquilo, com a casa vazia. mas era questão de tempo. não ia sair só pra fugir disso.

deitou atracada com a comida no sofá. dormiu. sonhou. acordou, atrasada, olhou no relógio, saiu correndo... não é que é mesmo pra frente que se anda?

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