12.1.14

razão

Fazia dois dias que acordava assim. Dois dias pensando no cara. Um amigo de amigos de amigos. Daquelas pessoas que você conhece por acaso. Numa festa. Nada demais. Comentaram um show que tinham visto dois dias antes. Falaram do calor. Essas coisas de verão, nada demais. Ele era bonito. Nada demais. Um desses tipos bem comuns no Rio. Moreno, meio com cara de surfista. Ela mexeu que ele perdia o direito de reclamar do calor por causa das calças compridas (ela usava vestido, como de resto quase todas as mulheres da festa). Nada demais.

Acabaram ficando, claro. Nada demais. Não tinha sido um cara com uma puta sintonia, nem intelectual, nem na cama. E ela não conseguia entender. Fazia dois dias que pensava nele. Tinha mil coisas pra fazer. Trabalho. Cinema. Amigos. E só pensava no cara, que não tinha sido nada demais. Isso não fazia nenhum sentido. Nenhum.

Saiu com outro grupo de amigos naquele domingo de tarde. Pra não ficar em casa pensando no cara. Pra não pensar no que não era nada demais. Programa de verão no rio. Cachoeira nas paineiras. Amigos com carro são muito amor nessas horas. Vieram pegá-la em casa, era meio caminho. Tarde gostosa, passeando e entrando nas cachoeiras. Lavar tudo de cansaço. Tudo do passado, né?

De repente, falando asneira e andando de biquíni pelo meio do parque (ok, insistiram, ela pôs o short. mas poxa, que tem demais, gente?), esbarrou no nada demais. Ele era comum. Só tinha uns olhos verdes interessantes. Nada demais. Na verdade, os olhos nem eram tão verdes. Mas parece que brilhavam quando ele sorria. E ele sorriu quando a viu. Não, não ficou olhando com cara de babão. Sorriu. Como ela deve ter sorrido.

Começaram a conversar. Nada demais. E aquilo tudo era tão estranho. A conversa era absolutamente confortável e simples. E eles estava de carro, claro. E saíram das paineiras só os dois. Deixando os amigos, dela e dele, no outro carro, rindo. A conversa continuou. E a noite. E saíram de novo na quarta-feira. E na sexta. Quando viu, meses depois, estavam namorando. E ele riu dela de não ter percebido que era isso. Que ele tinha chegado pra isso. Na hora em que ela não estava esperando. E estava tudo bem. Nada demais.