20.3.14

sonho

Luana acordou meio inquieta. Não, inquieta não é o nome. acordou confusa. No sonho, gente demais que ela não queria mais ver. Não, nem era isso. Era o que fazia com as pessoas. A pessoa, no caso. Amigo de infância. Se conheciam desde sei lá quando. Sabiam todos os erros um do outro. Bruno tinha visto Luana virar gente. Luana tinha visto Bruno se casar. E separar. E enfim. Nunca nada além de amizade.

Enfim. Estavam, os dois, ainda naquele rame rame de superar as separações. Saindo com meio Rio de Janeiro. O de sempre. Algumas noites nem lembrava como tinha voltado pra casa. A dor de Luana era daquelas públicas. Sempre fora assim. Abre os braços, estica, rasga, mostra, explica. Bruno tentava segurar a onda. Mas na onda dele de dor privada, ficava difícil de acompanhar o processo. E era muito estranho também estarem juntos. Exatamente no mesmo momento da vida.

Luana estava decidida a parar com o redemoinho. A acalmar a vida. E saiu com Bruno pra jantar e conversar. E ficaram falando ali de bobagens. Dos outros amigos. Das pessoas com quem vinham saindo. E foi só isso. Eles sendo eles, fizeram macarrão que faziam quando adolescentes. Bebendo, claro. E porque beberam, um erro crasso: caíram de sono no chão da sala, abraçados.

E daí veio o sonho. Luana acordou assustada. O sonho era real. E Bruno. Bruno não podia ser nada além do amigo de sempre. Olhou pro lado e o viu dormindo, sereno, ainda com as roupas da véspera. Ela também, nem sem sutiã estava. Mas cara. o sonho...

Bruno abriu os olhos. Um sorriso de canto de boca. Pegou Luana pela nuca. Sem falar nada. Tirou o cabelo dela do rosto. Começaram a se beijar. Foram pro quarto. Será que era sonho ainda? Aquela mordida no ombro era real demais pra isso. E aquela mão segurando suas coxas. E tudo aquilo parecia errado demais e certo demais ao mesmo tempo. E como ela iria sobreviver ao dia seguinte? E como não continuar o que parecia tão bom? E treparam até caírem exaustos de novo.

E acordando, dessa vez sem nenhum sonho, Luana olhou pro lado e não quis perguntar nada para o amigo ao seu lado. Não quis saber o dali por diante. Simplesmente não interessava. E ele olhou pra ela, como se pensando nisso também. Puxou Luana pela cintura. Beijou atrás da orelha...


15.3.14

noite

tarde. muito tarde. pra variar tinha ido encontrar uns amigos ali na lapa. bar, dançar, o de sempre. pra variar tinha resolvido ir embora do nada. os amigos nem tentavam demover mais a ideia da cabeça de ana. simplesmente deixavam ela ir. sabia se virar, pegar um taxi, ônibus, foda-se. mas não iam ficar aflitos com maluquice alheia. ana simplesmente precisava voltar pra casa. era como se tivesse alcançado um limite de ver gente. isso. esgotou.

a outra coisa é que gostava daquele andar anônimo. sem conhecer ninguém. foi andando pelas ruas, vendo os amontoados de pessoas ao redor dos bares. pensando quando já tinha ido naqueles mesmos bares. pensando que estava sozinha. e que gostava de estar sozinha. gostava de não precisar conversar, nem ser inteligente, nem ser adorável, ou educada. podia andar ali só olhando e ouvindo conversa alheia. pensou se passava no bar de sempre pra ver se outros amigos estavam ali. melhor não.

foi pro ponto de ônibus. esperando. pensando se pegava ônibus ou táxi. morava perto, não sairia muito caro. enfim. os dias andavam meio complicados. eliana andava irritada com ela, e com razão. não desencarnava do ex, não saía com mais ninguém, ficava azucrinando os ouvidos alheios com seu mau humor. e sua misantropia. estava alcançando níveis alarmantes.

os amigos podiam entender, né? que as coisas levam tempo. ela entendia o amor deles. o chamado deles. mas ana ainda precisava de tempo. pra sarar, sei lá. pra voltar a estar nos seus pés. e não saindo dos pés de outro. sei lá.

começou a andar de novo. não quis esperar ali. decidiu tomar uma cerveja sozinha nas barracas antes de ir pra casa. as pessoas olhavam como se ela fosse maluca. chegaram a perguntar se estava esperando alguém. não, obrigada. só queria uma cerveja. sozinha. era pedir demais?

de repente apareceu carlos. não, ela não conhecia carlos. não, ele não era amigo de ninguém conhecido. não, não era prudente conversar com um desconhecido no meio das barracas da lapa as 3h30 da manhã. mas ele foi gentil. se ofereceu pra comprar outra cerveja. conversou, contou da sua vida. ana foi deixando as barreiras de lado. saíram da lapa juntos. foram pra urca ver o sol nascer. conversar na praia. engraçado. como se fossem amigos de séculos.

de repente ana se deu conta. de que finalmente podia parar com a misantropia. de que eliane nem ia mais reclamar. de que o passado estava, vejam só, no passado. porque ela não era mais aquele museu ambulante. e carlos podia acabar aqui e nunca mais ser visto. mas nossa. que pá de cal bonita que ele era.

14.3.14

hamburguer

acordou com uma vontade enorme de comer hambúrguer. olhando pro lado percebeu que nem estava em casa. verdade. tinha saído com marcos. saco. não tinha lembrado de avisar a mãe. pegou o celular e estavam lá nhenhentos recados. ligou, pediu desculpas, avisou q tava viva, enfim, fez o que deu pra evitar maiores atritos. marcos dormiu durante toda a conversa. inacreditável. continuava querendo comer hambúrguer.

tentou pensar o que queria da vida. naquele momento. não soube se responder nada fora hambúrguer. mentira. pensou em batatas e bacon também. mas não respondia a pergunta da hora: se acordava ou não o cidadão que dormia ao seu lado. e dormia lindo, claro. depois de muito pensar, achou que podia só deixar um bilhete. pra marcos decidir o que queria da vida. era expert nisso. a culpa ou tá nos outros ou tá nos astros, né? enfim.

se vestiu mandando zapzap pras amigas. vendo se tinha quórum para um almoço básico de hambúrguer. em dez minutos todas concordaram. deixou bilhete avisando onde ia. e foi almoçar ainda parecendo um texugo, afinal, nada de demaquilante na casa do cara, né? qual não foi a surpresa ao ver que não era a única.

joana chegou com um vestido que minha nossa senhora, não fora feito pra luz do dia, definitivamente. luciana estava sem sutiã. jurava por tudo que havia de mais sagrado que não tinha esquecido. tinha realmente perdido o sutiã. ainda não descobrira aonde. ana e paula tinham só saído pra dançar. e pediram por favor para não tentarem reconstruir seus passos na véspera. o garçom só não riu mais porque não era a primeira vez delas ali. sabia que não era hora.

pediram os hambúrgueres. depois de comer, conseguiram começar a falar de verdade. joana tinha saído com paulo pela força do hábito. ele ainda queria, ela simplesmente não estava sabendo avisar que queria estar solteira. mas antes de sair da casa dele tinha conversado e posto um ponto final. tava triste, claro, mas aliviada. e porra, que desperdício de vestido, sabe? pra usar pra dar um fora no cara.

luciana tinha saído com um cara novo. que tinha conhecido por acaso num bar fazia duas semanas. trocado telefones. achava que ele não iria ligar nunca. mas ligou. e era amigo do marcos. chamava carlos. e parecia que a noite deles tinha sido ótima. e só um começo. nunca se sabe, mas...

as meninas tinham dançado na matriz a noite inteira. e não tavam com vontade que ninguém chegasse perto. se aborreceram com um cara. discutiram e tals. acontece. a noite ainda assim foi boa. enfim. e o marcos? perguntaram

ah... o marcos... mariana teve de falar. saiu com marcos. continuava sem saber o que queria. mas ele continuava dormindo tão bonito....