27.1.12

um dia eu acordo e mando tudo pro ar. e desisto de tudo. ligo pro trabalho e digo que não vou. não ligo pra minha mãe. nem pro meu pai, pro amigo ou pro ex-namorado. sumo. pego um ônibus e vou. de pedaço em pedaço. conheço o mundo todo. e não sei aonde eu paro. quer dizer, eu sei. paro aonde der. aonde puder. quando chegar, e eu souber, crio raiz. conheço alguém. dou bom dia todos os dias. acordo junto. vou trabalhar (as contas. a comida. dizem, precisamos pagar por isso). mas um dia eu acordo de novo...

19.1.12

passei muitos anos fugindo da viagem. com medo da viagem. sem tempo pra viagem. sem dinheiro pra viagem. e descobri que estava sem tempo pra mim. agora estou pegando a estrada. pra onde não sei.
não, esse não é um blog de fatos. fatos acontecem. mas não sei se eu os relato ou os invento.
eu sonhei com ele. e claro, ele não estava no sonho. mas nossa, o tal do inconsciente é espertinho vez em quando, viu? eram todos os signos. todas as presenças. menos a dele.


porque é isso que ando querendo. mas agora não dá.
cada cicatriz é um nome

15.1.12

essa coisa da viagem. eu sei reconstruir na cabeça trajetos por cidade em que só estive uma vez. sei aonde comi aquele sanduíche, ou o chocolate quente perfeito. lembro da igreja que achei bonita, da curva que me fez ver o coliseu. viagens me fazem ficar estranhamente mais inteligente espacialmente. porque assim. daqui pro leblon eu sou capaz de me perder.

12.1.12

a barra acabou. e nem escrevi tanto. mas confesso. meu lado voyeuse anda mais forte que nunca. ouço cada diálogo...
desistiu de recompor a noite. certamente nada demais, pensou. era sábado. tudo isso e ainda era sábado. confirmou na internet, vendo o jornal. nem era tão tarde. mas enfim, de repente era de bom tom pular o café. almoçar, pensou. comer alguma coisa. necessário. a dúvida era: ligava pra alguém, pra ter companhia ou se virava com a geladeira, indo depois na praia, quieta. sozinha.

a vontade de estar sozinha ganhou. e o café também. não da manhã, mas enfim... ovos, pão na chapa, café, leite, mamão... engraçado, quando sai correndo pro trabalho nunca dá tempo. mas hoje dá. e leu as notícias na tela lentamente enquanto comia cada pedaço...

8.1.12

eu? eu ando tentando reconstituir os últimos 35 anos. sem muito sucesso, mas insisto nisso.
ana acordou com um gosto doce na boca. melhor do que de guarda-chuva, pensou. mas estranho, de qualquer jeito. também devia ser por causa da quantidade de álcool da véspera.

aliás, o que tinha acontecido naquela noite? flashes passavam pela cabeça. risadas. alguns homens (calma, gente, conversando, infelizmente). tirar o salto na praia. pera. a noite acabou na praia?

olhou em volta. ok, menos mal, estava sozinha. mas de biquine. quer dizer, ela passou em casa pra por o biquine, aparentemente. mas então porque a lembrança de ir de salto pra praia? ai gente... pra quem ligar? será que alguma amiga conseguiria reconstituir a noite?

7.1.12

não, esse não é um blog de fatos. fatos acontecem. mas não sei se eu os relato ou os invento.
a viagem, né? tem seus percalços. essa semana tem sido um. mas eu volto pra ela. ou estou sempre nela, não sei bem.

andei lembrando de um dos meus livros prediletos, e preciso rele-lo. vou catar. fico só com a frase repetida ad nauseum: "não a simpatia natanael, o amor". a viagem precisa disso. sair da simpatia.
– relaxa a barriga
– tá relaxada
– mas você malha muito? que exercício você faz?
– só pilates.

esse foi o ápice de uma das semanas mais esquisitas ever. imagina a situação constrangedora de ter de explicar que não engorda na barriga pra uma pessoa que nunca te viu antes. nem mais gorda, nem mais magra.

mas a situação pode ficar mais constrangedora. quer saber como? era uma clínica de fertilidade, esse lugar em que eu encontrei a enfermeira. e o local de aplicação das injeções também é usado para "coleta de material". quer dizer, na minha frente, enquanto eu tinha esse diálogo, pilhas de "revistas masculinas", uma tv meio velha, pilhas de dvds com as capas cheias de tarjas pretas...

2.1.12

a ida até a barra é longa. os personagens são vários. o surfista, bêbado às 10h da manhã. o velho que acha que eu que estou furando fila. as senhorinhas com medo do elevado ficam se agarrando na cadeira. eu enjôo se leio em ônibus. um segredo: eu tenho medo do elevado que nem as senhorinhas. mas enfim, uma hora depois de entrar, eu desembarco. e cada um vai pro seu canto...
notas sobre o meu exterior. exterior definido como o que não está dentro da pele. no momento, agulhas fazem parte do meu interior. por 8 a 10 dias, disse a médica.
tenho ido na barra pra fazer o tratamento. daqui até a barra tenho contato com muitos mundos exteriores. acho que vou escrever muito.